Um bicho diferente


Domingo de sol e, por sugestão minha, íamos eu com meu amigo Flavio, sua esposa Bianca e seus dois filhos Felipe e Vinícius subindo a trilha que começa ali na pista Claudio Coutinho, terminando no alto do Morro da Urca.
Os meninos subiam reclamando muito de cansaço e de calor. Estavam contrariados, desacostumados com aquele tipo de programa. Era como uma escalada, um martírio.
Para distraí-los, propusemos um jogo de adivinhação. Alguém deveria pensar em algo e responder apenas ‘sim’ ou ‘não’. E começamos. Cada um foi imaginando algo e os outros iam descobrindo. Quando foi a vez do Felipe, ele disse:
“Pensei.”
E vieram as perguntas.
“É mineral?”
“Não.”
“Vegetal?”
“Não.”
“Animal?”
“É.”
“Mamífero?”
“Não.”
“Tem quatro patas?”
“Não.”
“É uma ave?”
“Não.”
“É um animal terrestre?”
“Não.”
“Então é aquático.”
“Sim.”
“Um peixe?”
“Sim.”
“Peixe grande?”
“Não.”
E começou uma enxurrada de nomes de peixes e o menino ia negando tudo. Tentamos descobrir pela letra inicial.
“Começa com B?”
“Não.”
“Começa com T?”
“Não.”
Após muitas tentativas, chegamos ao “S”.
“Sardinha?”
“Não.”
“Surubim?”
“Não.”
E mais nenhum nome de peixe com “S” nos vinha à cabeça.
Felipe regozijou-se, convencido da sua inevitável vitória:
“Oba! Vou ganhar! Vou ganhar! É muito fácil! É muito fácil mesmo!”
Todos desistiram. Jogamos a toalha.
E ele, tranquilamente, deu a resposta:
“Sushi.”
Nós nos entreolhamos num silêncio que durou uns três segundos.
“Sushi?????”
E estouramos numa gargalhada fenomenal. Felipe não entendeu nada de pronto e o meu amigo Flavio explicou:
“Filho. Sushi não é peixe. É uma comida, um prato feito com peixe.”
Inesquecível a cara de desapontamento do menino.
Chegamos ao alto do Morro da Urca fazendo muita graça, encarnando nele, sugerindo que, naquelas águas, existiam cardumes e mais cardumes de sushis e sashimis.


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