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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Momento de prazer

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Hoje me pediram para dizer de pronto o que me viesse a cabeça, algo relacionado a um MOMENTO DE PRAZER. Imediatamente me veio a imagem de Milla, minha cockerzinha, na janela do carro em movimento. A cabeça para fora, o focinho esticado para a frente, as narinas mexendo, os olhinhos se apertando, boca semiaberta, as orelhas compridas balançando com o vento. Essa cena se repetiu muitas vezes durante quase treze saudosos anos de convivência e muitas viagens.  Puro momento de prazer.

A diplomada

Eu voltava de Madureira no ônibus 636, após uma apresentação minha dentro da série de shows, que acontecem com entrada franca nas tardes do SESC de lá. Passando pela Rua Dias da Cruz, dois jovens músicos embarcaram. Um cavaquinista e um pandeirista. Sentaram-se ao meu lado naqueles últimos lugares, onde o povo, constantemente, é jogado para o ar com as lombadas e buracos das ruas mal conservadas. Iniciamos uma conversa estimulada pela minha curiosidade. Eles vinham de um trabalho no Clube Mackenzie, um almoço com roda de chorinho. Comentaram coisas que ocorreram ali e se queixaram das alegrias e dificuldades daquele ofício. Nosso papo foi interrompido com a entrada de uma mulher no primeiro ponto da Rua Hermengarda. Era mulata, magrinha e tinha o cabelo todo aprisionado por grampos enormes. Uns cinquenta e poucos anos talvez. Apesar do calor que fazia, usava um sobretudo branco que, de tão longo, provocou um tropeço nos primeiros degraus. Teve dificuldade em se agarrar no c

O taxista de Hamelin

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Aproveitando o dia chuvoso, remexo guardados e me deparo com o programa da peça “O Mágico do Som” (direção de Neide Lyra e músicas do Kleiton Ramil), um encarte de quatorze páginas idealizado e confeccionado inteiramente por este que vos escreve. O texto da peça é uma criação coletiva inspirada no “Flautista de Hamelin” dos Irmãos Grimm. Olhando esse material, imediatamente, sou remetido ao tempo longínquo lá da minha adolescência, uma situação tensa que vivi junto com amigos. Alguém tinha lido no jornal que A Flauta Mágica estava em cartaz no Cinema Dois (Estúdio Gaumont) de Copacabana em sessão especial. Apesar das trovoadas anunciando temporal, reunimos um grupo grande e fomos ao Posto Seis para vermos aquele filme de Bergman baseado na famosa ópera de Mozart (não confundir com “ H.R. Pufnstuf”, longa metragem que também foi seriado de TV). A estória apresentada no filme é bem diferente da do Flautista de Hamelin, p orém, não conseguimos assistir. Na hora de passarmo

Poeminha da manhã de sol

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Temporal, oh minha gente, Por aqui é tão normal  Deixa a chuva levar casa, Levar todo o pessoal Vamos jogar muito lixo, Fazer isso não faz mal  Mais aumento pro prefeito, Que esse cara é bem legal Temporadas em Paris, Paris é fenomenal UPP, rapaziada,  Se bandido der sinal Vamos pintar a cidade,  Vai ficar bem colossal Índio tem que ter apito,  Isso é gente marginal Demolir o casarão,  Maquiar é o ideal Que é preciso abrir alas,  Vem chegando o Carnaval.

Nos bailes da vida

Encontrei Mirna com o rosto quase colado na vidraça vendo os casais a bailar no salão do Centro de Dança Jayme Aroxa. Eu nunca a tinha visto na vida, mas, na maior intimidade, agarrei seu braço e ordenei: “Vamos entrar agora. Vamos, vamos.” Ela se assustou. Tentou falar, mas eu não deixei. “É proibido ficar aqui fora. Venha.” Entrei com ela no salão e me afastei. Circulei pelas laterais, cumprimentei pessoas sentadas nos bancos e procurei a professora Briane para comentar qualquer coisa. A música tocando, os casais deslizando. Num determinado momento, notei Mirna acuada num canto da parede. Fui falar com ela, que tentou disfarçar os olhos inchados de quem chorara muito. “Por que não está dançando? Onde está seu par?” Encabulada, ela explicou: “Não sou aluna. Entrei aqui por acaso e...” Tornei a pegar seu braço. “Nada é por acaso. Vamos dançar.” “Não posso, não sei, não sou aluna”, relutou. “Não se recusa convite de cavalheiro.” Mirna se deixou levar. F

O gambá e a careca do papai

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Ainda na temática sobre bichos. Outro dia, passeando pelo Forte do Leme, um grupo de cinco a seis micos vieram quase na minha mão. Estavam famintos. Alguém passara antes e lhes dera algo para comer. Em Santa Teresa, via muitos passeando pelos fios do bonde. Alguns morriam eletrocutados. Muito triste quando isto acontecia. Durante o tempo em que tive casa em Lumiar, recebia visita de micos. Dava-lhes bananas e pedacinhos de pão. Havia um lagarto que morava numa pedra plana bem na entrada da minha casa. Durante meus banhos de rio, eu costumava deitar depois naquela pedra. O lagartinho acabou se acostumando comigo e ficava parado, quieto ao meu lado. Ficamos amigos. Cobras também apareciam. Dava medo. Uma vez, um amigo foi ao banheiro. Estava distraído a mirar seu xixi no vaso sanitário quando, de repente, viu uma cobra toda enrolada, deitada na janela na altura da sua cabeça. Deu um pulo para trás e ela chegou a dar o bote. Ele correu para fora com a calça aberta, tudo de for

Bichos fora do lugar

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A praia do Diabo, durante um bom período, ficou liberada para o banho e lazer dos animais domésticos. Com muita frequência, eu montava na minha bicicleta e ia com Uly, minha cachorra dobermann, até essa praia “dos cachorros”, saindo de Botafogo, passando pelo Shopping Riosul, o túnel para Copacabana, toda a ciclovia do calçadão da Avenida Atlântica até chegar naquele comecinho de Ipanema. Uly correndo sempre rente a mim. Chegando lá, brincadeiras na areia com bolinha e um mergulho no mar. Se as ondas estivessem altas, Uly não entrava. Ficava na beira latindo muito, nervosa comigo. E quando eu voltava, a inevitável mordida de repreensão. Naquele espaço havia todo tipo de cachorro, dos menores aos enormes: pinschers, cockers, labradores e um pastor alemão temido por todos. Era feroz, mas vivia solto e avançava em todo mundo. Seu dono, um pitboy arrogante, nem se incomodava com aquilo, sempre concentrado nas raquetadas do jogo de frescobol. Testemunhei brigas dos revoltados com o

Doce de que?

Cida era minha vizinha em Botafogo e vivia se insinuando para o meu lado. Tinha família enorme, uma infinidade de gente a se espalhar por três apartamentos no prédio da Rua General Polidoro. Não sei quantos eram, mas encontrava com frequência uma das irmãs dela que era secretária de advogado. Havia um irmão mais velho chamado Nilo, mecânico, não esquentava emprego, vivia bêbado e, vez por outra, era flagrado nas escadarias de serviço praticando indecências com algum rapazinho da rua. Família sacrificada. Cida morava dois andares abaixo do meu, mas quando a situação financeira deles se complicou mais, entregaram dois apartamentos e ela foi com todo mundo para o último que restava e que ficava justamente no meu andar. A área de serviço deles dava de cara para a minha, separados por um grande fosso.   Bastava eu aparecer para lavar algo no tanque ou ir buscar algo na despensa e lá estava Cida a me espiar. Logo mandava o seu “psiu”: “Bom dia, vizinhooooo!” “Bom dia.” “Cadê a