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Mostrando postagens de novembro, 2009

Coisas do Brasil

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Dia seis de outubro de dois mil. Era uma sexta-feira. Aquela foi uma das noites mais curiosas que já vivi nessa estrada de cantorias por aqui e acolá. Chovia a cântaros e eu me encontrava todo arrumado, chapéu na cabeça, dentro do ônibus 409 parado num engarrafamento no Jardim Botânico, atrasado para ir cantar na varanda do Clube Militar da Lagoa. Atrasei-me muito por conta do caldo verde que oferecera horas antes a um casal de amigos e pelas crateras que tinha feito na barba, ao tentar apará-la, com a habilidade e a delicadeza de um lenhador. Resultado: acabei tirando tudo e deixando um cavanhaque ridículo que me dava um ar meio cafajeste. Um cara magrinho de óculos sentou ao meu lado no ônibus, deu uma conferida no meu visual e não resistiu: “Desculpa perguntar... Sou fotógrafo e observo as pessoas. Você é cantor?” "Sim". “E é do nordeste, não é?” “Não sou não. Mas adoro o povo nordestino.” “Mas você assim de chapéu... Achei que fosse cantor de forró.” “Ol

Recordando Simone III

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Há algum tempo, nos falávamos apenas por telefone. Simone andava indisposta, dizia passar muito tempo deitada, mas não queria entrar em detalhes. Apenas garantia que, em breve, estaria em forma novamente. "Sou uma fortaleza, se esqueceu?" Avisei que iria até lá para uma visita. Há muito tempo não promovíamos mais aqueles nossos alegres encontros, com direito a vinho, pizza, música e as frases engraçadas colhidas do “Almanhaque” de Aparício Torelli, o Barão de Itararé. Ela recusou. Queria ficar um tempo só. Tive que respeitar sua vontade. E assim foi. Eu ligava umas três vezes na semana para contar sobre o meu dia-a-dia, dizer coisas engraçadas, falar detalhes de um show que fiz em Botafogo, lamentando a ausência daquela que se auto-intitulava líder do meu fã clube. Ela, num claro desânimo, não correspondia às brincadeiras, como de costume. Por ocasião do falecimento do meu pai, me pediu milhões de desculpas por não ter comparecido ao velório, porque estava com mui

Recordando Simone II

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Diante da porta do apartamento, João meteu a chave no trinco e avisou que tudo estava uma grande desordem. A sensação que tive ao entrar ali não foi nada boa. Os discos, as gravuras emolduradas, caixas e mais caixas... Tudo pelo chão. As paredes com as marcas dos quadros e os pregos revelados. Tão diferente do cenário que eu conhecia tão bem No quarto de Simone, ainda intacto, as portas do armário abertas a mostrar aquelas roupas ainda arrumadas do jeito dela, mas que, em breve, sairiam todas de uma só vez para uma instituição de caridade. Voltei os olhos para a sala, num desejo de que as coisas todas voltassem aos seus devidos lugares, recuperar aquele antigo refúgio onde nos deixávamos ficar por horas e horas tagarelando nossas bobagens, ao som de boa música, saboreando vinho barato. Também conversávamos coisas sérias, questionávamos nossas vidas, falávamos de amores, família e morte. Fizemos aquele manjado pacto do “Quem desencarnar primeiro, dará um jeito de avisar ao outro”. Minha