A viagem suspeita
O feriado do dia primeiro de maio se aproximava. Em pleno expediente da firma, liguei o radinho, alento naquele dia chuvoso e frio, e ouvi anunciarem diversos shows comemorativos pela cidade. No outro canto da sala, na mesa oposta, minha colega de trabalho quis saber: - É na sexta da semana que vem. Você tem algo planejado? - Ainda não. Queria viajar. E você? Vá ver o show da Bethânia. Está lindo. - Não dá. Comigo é complicado. Sempre muita coisa para resolver em casa. Marize não era de programas. Levava vida pacata, rotineira, da casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Nos finais de semana, afazeres do lar e o namoro avarandado com o noivo. No domingo, igreja. Igreja batista. Nada acontecia de diferente no seu dia-a-dia. Nenhum passeio, cinema ou viagem. Nada. Ao contrário dela, a cada segunda-feira, eu vinha com novidades: uma peça de teatro, algum show, festa, praia, caminhada com amigos por trilha. Ela escutava com os olhos brilhando, desejosa de participar daqu