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Mostrando postagens de abril, 2014

A viagem suspeita

O feriado do dia primeiro de maio se aproximava. Em pleno expediente da firma, liguei o radinho, alento naquele dia chuvoso e frio, e ouvi anunciarem diversos shows comemorativos pela cidade. No outro canto da sala, na mesa oposta, minha colega de trabalho quis saber: - É na sexta da semana que vem. Você tem algo planejado? - Ainda não. Queria viajar. E você? Vá ver o show da Bethânia. Está lindo. - Não dá. Comigo é complicado. Sempre muita coisa para resolver em casa. Marize não era de programas. Levava vida pacata, rotineira, da casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Nos finais de semana, afazeres do lar e o namoro avarandado com o noivo. No domingo, igreja. Igreja batista. Nada acontecia de diferente no seu dia-a-dia. Nenhum passeio, cinema ou viagem. Nada.   Ao contrário dela, a cada segunda-feira, eu vinha com novidades: uma peça de teatro, algum show, festa, praia, caminhada com amigos por trilha. Ela escutava com os olhos brilhando, desejosa de participar daqu

O encontro de Jararaca e Ratinho no céu (do jornalista Eldemar de Souza)

Bateram à porta do céu São Pedro disse: “Já vai!” Limpou as barbas do mel Que havia lhe dado o Pai, Levantou com toda a calma, Lavando as mãos na travessa, Pois sabia que era alma E alma nunca tem pressa. Retirou então a estaca Que reforçava o portão E em pé, de chapéu na mão, Lá estava o Jararaca. São Pedro tão logo viu Reconheceu o artista: “Este veio do Brasil, Eu o conheço de vista. Já sei que hoje tem festa De entrar pela noite inteira, Alguns vão cantar seresta Outros dançar gafieira. Jararaca que estava Ansioso para entrar Tratou logo de falar Pro santo que o espiava:“Me dá licença, meu santo! Gostaria de entrar. Eu só preciso de um canto Para poder descansar. Passei 81 anos Por sobre a face da Terra. Tive sonhos, tive planos E assisti a duas guerras. Cá pra nós, fui comunista, Mas isso lá é pecado?” Contou um caso engraçado Com sua verve de artista. Pedro riu aos borbotões E foi logo lhe abraçando. E ele

Trem da madrugada (do cordelista Azulão)

Leitores trago mais uma Criação muito engraçada Da minha lira poética Que sempre vive afinada Desta vez descrevo bem O movimento do trem Que desce de madrugada Seja de Paracambi São Mateus ou Santa Cruz A turma da fuleragem Que só bagunça produz De madrugada só quer Carro que tem mais mulher Porta enguiçada e sem luz Mulher de anca bem gorda Diz o cabra, esta é legal Que a coitada passa mal Dá bronca, dá coice e upa O cabra tá na garupa Só desmonta na Central Não adianta dar bronca Nem reclamação, nem choro A turma rodeia ela Fazendo força igual touro Por trás, de frente, de lado Só urubu esganado Por tripas no matadouro A mulher fica no meio É homem por todo lado Cada um tira uma linha De maldade e fraseado Quando ela banca a loba Outro grita olha a mão boba Que aí só tem tarado Alguma usa alfinete Ferra o cabra igual lacraia Mas a que gosta do frevo Se solta no meio da laia Gaiato grita de lá Zé Mané chega pra cá Aqui tem rabo de saia

No dia nacional do choro, minha homenagem ao grande trombonista Raul de Barros

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Viva Mario Pereira!

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Viva Mario Pereira, grande amigo, maravilhoso saxofonista

Mário Pereira Por Beatriz Fontes. Capixaba de Muqui, Mário Pereira veio para o Rio aos quatro anos de idade, para morar no Borel (Tijuca). Cresceu ouvindo o violão de seu pai, a sanfona de oito baixos de seu avô materno e o cavaquinho de seu tio. Ainda criança, aprendeu a apreciar a música de Ratinho, Pixinguinha, Severino Araújo, Luis Americano, entre outros. Segundo Mário, como não havia luz elétrica lá no morro, as pessoas acabavam aproveitando a lamparina e a luz do luar para fazerem reuniões musicais. Mário começou tocando flautinhas de taquara, que ele colhia na região, aos quatro anos. Ele conta que seu primeiro contato com uma flauta de verdade se deu numa Folia de Reis, comemoração bastante comum na época. Por conta disso, pediu ao pai que lhe comprasse uma flauta de lata, na feira e, de posse desta, saiu tocando uma música de Luiz Gonzaga, chamada “Vida Ingrata”. Vendo que o filho levava jeito com o instrumento, o pai decidiu levá-lo para ter aulas de música numa igr

Minha homenagem ao Pixinguinha. Amo esse texto.

 ‘Me emociono ao lembrar a infância pontilhada por música, carinho, amor’.  Alfredo da Rocha Vianna Neto, único filho de Pixinguinha.  (publicado no jornal O Globo em 07.04.96) PIXINGUINHA 117 ANOS:  Filho do músico conta como ganhou os pais com um sorriso.           Os meninos da minha rua, em Olaria, vivam mexendo comigo: “Como é que, com um pai preto e uma mãe mulata, você saiu tão branco?” Eu ficava furioso. Queria briga, corria atrás deles, mas logo esquecia. Eu gostava tanto de meus pais que não me importavam as diferenças de cor. Mas é claro que havia uma história por trás. Meu pai Pixinguinha, e minha mãe, Beti, tinham se conhecido em 1927, em São Paulo. Ela, paraense, era atriz da Companhia Negra de Revistas, então conhecida pelo nome artístico de Jandira Aymoré (chamava-se, na verdade, Albertina Pereira Nunes, daí o Beti). Ele, carioca, tinha sido contratado para reger a orquestra durante o espetáculo “Tudo Preto”. Apaixonaram-se, casaram-se num cartório do Brás e

You and me

Pelo Dia da Voz. Tem o causo de um cantor meio tonto que, querendo impressionar pela voz e interpretação, montou um roteiro musical todo em inglês para apresentar num certo bar da Lapa. Logo no início do show, os primeiros acordes e o foco de um refletor deslizou pela plateia, indo parar no alto, de onde ele surgiu descendo lentamente uma velha e torta escada de madeira.  Ao chegar ao meio da descida, ele entoou um "you and me" da tal música americana.  Ao dizer "you", ele colocou a mão no peito. Ao dizer "me", apontou para a plateia.  Um riso incontido se espalhou.  Ele nem teve tempo para entender, porque escorregou no degrau e rolou o restante da escada.

Duelo na pista de dança

          Manhã de segunda-feira, eu apavorado, coração na boca, unhas cravadas no assento traseiro do automóvel negro a percorrer em alta velocidade a rodovia Rio-Juiz de Fora. O motorista Ederson se gabando por manter a media da velocidade entre cento e dez a cento e vinte por hora, mesmo em curvas perigosas, ignorando a cerração e chuva forte em alguns trechos. Ao seu lado, minha amiga Maria de Lourdes achando tudo ótimo, sem qualquer temor pelos riscos. Sogra e genro iam tagarelando, gargalhando muito. Primeira parada foi no Alemão para comermos croquetes e mil folhas.  A segunda, o Salvaterra de Petrópolis com seus folheados de queijo e empadas maravilhosas. Eu estava ali por insistência daquela minha companheira de dança. Seria uma semana inteira na casa da filha Maria Regina na cidade mineira de Viçosa, onde dois bailes tradicionais aconteceriam em comemoração pelo dia das mães. A viagem, que costuma durar em média sete horas, foi concluída pelo possante em quatro. Chegamos