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Mostrando postagens de junho, 2014

A recatada 3

Episódio final: Motéis, festas, flagras e retiros espirituais.           Minha contida namorada Joana Maria conformou-se de não mais incluir seus amigos da igreja nos nossos programas. Enfim, livre das carolices deles, dos fricotes do espevitado Fernandinho, do silêncio irritante da japonesinha Mioko e, principalmente, longe do constrangedor assédio de lânguida Priscila. Porém, não conseguia fazer com que Joana Maria se sentisse mais a vontade comigo, se soltasse, rompesse, enfim, como direi..., a vigente formalidade existente entre nós. Nossa intimidade era praticamente zero. Mas vislumbrei luminosidade ao túnel, assim que descobri que meu amigo Flavio iniciara romance sem limitações com uma também lá da igreja, morena liberal, o oposto das suas coleguinhas de reza. Sendo assim, urdi um plano e a tal garota foi imprescindível. Como boa amiga, ela aconselhou, convenceu minha namorada de que já era tempo de aquecermos nossa relação, de desfrutarmos de certos prazeres inerentes ao es

O estrogonofe

Não sou a palmatória do mundo, até porque, cometo meus errinhos (coisa rara). Mas aí vem um amigo pelo bate-papo internáutico e me convida para sair e tomarmos um “chopp”, porque ele anda muito “chatiado”. Não sou uma Danny Reis, mas algo vai além das minhas forças e, serenamente, dou um jeito de repetir corretamente aquelas palavras que acho que mereçam correção, uma forma de ajudar meu amigo a atingir certa luminosidade. BETO – Também estou “chateado”. Topo tomar um “chope”. AMIGO – Eu “quaze” fui com uma galera pra uma “boite”, mas é tudo muito “karo” e o povo só bebe “whisky”. BETO – Pois é... Hoje em dia, “quase” todo lugar é “caro”. Vou à “boate” de vez em quando e, raramente, bebo “uísque”. AMIGO – Vamos sair e comer algo, porque aqui em casa só tem pão com “mortandela”. BETO – Eu adoro “mortadela”. AMIGO – Que tal a gente jantar no (...)? São os reis do “tailarim”. BETO –  “Talharim”? Adoro massa. Ouvi dizer que lá servem um delicioso estrogonofe. AMIGO – “

A Recatada 2

Episódio 2: A lânguida caçadora.           Após dois dias, bem instalado no apartamento da minha amiga Lígia na Capital Federal, e já saindo com ela para uma noitada, uma ligação de alguém querendo falar comigo. Atendi e pasmei. Era lânguida Priscila, a que se dizia melhor amiga de minha namorada Joana Maria. - Como é que você me descobriu? - Foi Dona Renata, sua futura sogra quem me deu o telefone. Também estou por aqui. - Aqui em Brasília? - Sim. Na casa de uma prima no Lago Sul. - Que coincidência. Veio a passeio assim como eu? - Vim só pra te ver, pra ficarmos longe daqueles chatos lá do Rio. Apesar de não levar a sério o que ela me dizia, eu me constrangi um pouco. - Olha... Eu vou ter que desligar porque estamos de saída. - Vão pra onde? Quero ir também. Quero te ver ainda hoje. Me diz. - Olha... Eu não sei... A gente se fala noutra hora – respondi embaraçado. Lígia, penalizada com a insistência dela, tomou-me o fone e soletrou o endereço para onde iríam

A Recatada 1

Episódio 1: uma boate com gente diferente, gente esquisita.           Conheci Joana Maria numa festa na Rua Pareto e engrenamos um namoro. Bonita, branca como papel, cabelos castanhos escorrendo até metade das costas, era religiosa extremada, frequentadora assídua de um grupo jovem de certa igreja da Tijuca. Tímida de se enrubescer por nada - desafio a um galhofeiro como eu - tinha uma irmã sisuda e genitores também reservados. Soube que o pai nunca ralhava, sequer alterava a voz. Diante de algum problema, ouvia compreensivo, mediava, buscava solução ao conflito. Já a mãe variava de humor, ainda mais quando não encontrava objetos perdidos. Um tenebroso par de óculos fundo de garrafa ampliavam os olhos de Dona Renata tornando-a personagem de animação. Dava nervoso encarar aqueles olhões. Nas primeiras semanas, Joana Maria insistiu e eu acabei conhecendo sua comportada turma da igreja retirada num sítio em Teresópolis. A dona do lugar chamava-se Priscila e se destacava dos demais p

Resposta de Ignez Perdigão à minha carta

Querido Beto, você transbordou uma alegria e entusiasmo com nossa apresentação que só reconheço naqueles que amam muito a Música.  Suas palavras me dão uma dimensão especial do que fazemos juntos, pois se é algo importante pra você isso tem grande valor.  Estivemos juntos no Coral da Riotur e no da SMA, eu como auxiliar ensaiadora e assistente do regente Mário Assef e nossa amizade atravessou esses anos se recarregando em algumas ótimas canjas que você deu em casas noturnas onde tocou o Choro na Feira. Lembro vagamente desse episódio com o casal de músicos de rua, pois quando andava com instrumento debaixo do braço sempre sacava dele pra tocar com alguém na rua, toquei muito com aquela flautista doce que ficava no corredor de alambrados que ligava o metrô à Prefeitura, nos dias de ensaio de coro. Aliás fiz isso por 10 anos com o Choro na Feira. Sua estréia, bem como a da Irina, foi recheada de bons momentos, alguns muito tocantes. Tamu juntu para essa gravação. Grata por tudo, beijos.

Eu e o Coralito

Muito feliz com a generosidade dos integrantes do Coralito por permitirem minha modesta contribuição ao trabalho, num momento em que eu me sentia frustrado com o coral que participava até o final do ano passado, um grupo burocrático, sem liderança, sem projetos, sem consciência de conjunto e o pior, sem ânimo de cantar.  Mas ao conhecer o Coralito, meu prazer em dividir o cântico com outros foi recuperado. Logo no meu ingresso, eu me senti acolhido de pronto por todos e pasmei com meus novos e entusiasmados colegas preocupados com minha adaptação, com meu aprendizado. Imediatamente recebi as informações necessárias, o repertório com as partituras e gravações. Aí, a preocupação passou a ser minha em assimilar tudo depressa e não causar qualquer dano, qualquer desacerto a esta simpática turma de quatro naipes focados em timbrar bonito, em fazer o melhor possível e apresentar o repertório precioso da nossa música, a maioria, com arranjos magníficos da espetacular Ignez Perdigão. Igne

A empregada nova

Em visita ao amigo Victor Hugo, ainda morador de Santa Teresa, eis que sou convidado a almoçar lá. - Estou estreando hoje empregada nova muito bem recomendada – disse animado. Ele aumenta o volume de voz e avisa à dita cuja que está lá nos fundos: - Dona Edneia! O Beto vai almoçar com a gente, tá? Uma senhora magra e toda sorridente surge na sala fungando e esfregando o nariz. - Tá legal, Seu Victor. Já desossei o frango, já fiz o arroz e o feijão e agora é só preparar a salada que é a minha especialidade. O senhor vai amar. Dito isso, ela vai para a cozinha. De onde estávamos, podíamos vê-la em ação indo daqui para lá, pegando utensílios, levantando tampas, jogando pedaços de frango em uma das panelas. Em seguida, posiciona-se na pia para lavar as hortaliças. Apesar de estar de costas para a sala, percebemos a saladeira diante dela, as primeiras folhas de alface sendo ajeitadas no seu interior.   - Disseram que é cuidadosa, limpa, cozinha maravilhosamente bem – sussurra