Eu e o Coralito



Muito feliz com a generosidade dos integrantes do Coralito por permitirem minha modesta contribuição ao trabalho, num momento em que eu me sentia frustrado com o coral que participava até o final do ano passado, um grupo burocrático, sem liderança, sem projetos, sem consciência de conjunto e o pior, sem ânimo de cantar.  Mas ao conhecer o Coralito, meu prazer em dividir o cântico com outros foi recuperado. Logo no meu ingresso, eu me senti acolhido de pronto por todos e pasmei com meus novos e entusiasmados colegas preocupados com minha adaptação, com meu aprendizado. Imediatamente recebi as informações necessárias, o repertório com as partituras e gravações. Aí, a preocupação passou a ser minha em assimilar tudo depressa e não causar qualquer dano, qualquer desacerto a esta simpática turma de quatro naipes focados em timbrar bonito, em fazer o melhor possível e apresentar o repertório precioso da nossa música, a maioria, com arranjos magníficos da espetacular Ignez Perdigão. Ignez é única, preciosa, carismática, transborda talento, gosta do que faz. Como eu mesmo disse a ela, Ignez idealiza e realiza. Quando conheci Ignez, lá se vão quase vinte anos, eu cantava no coral da Riotur. Descobri que eu encontrara um ser humano raro.  Vivi alguns momentos únicos na sua companhia. Em um desses, provável que ela não se lembre, após o ensaio, passávamos pelo Largo da Carioca e avistamos, junto à entrada do metrô, um casal de velhos bem enrugadinhos tocando tristemente, ele no acordeão, ela no pandeiro, chapeuzinho com alguns trocados. Ignez se comoveu, sentou-se no chão diante deles, sacou do cavaco e sugeriu uma música mais animada. E mandou, se não me engano, “Eu só quero um xodó” (Dominguinhos - Gilberto Gil).  Os rostos dos anciãos se iluminaram.  “Asa Branca” (Humberto Teixeira - Luiz Gonzaga) veio de emenda. E juntou gente para ver, o chapeuzinho se enchendo de moedas.

Melhor liderança, o Coralito não pode ter, não é mesmo?

E eu agora estou tendo o privilégio de participar desse grupo de artistas incríveis. Finalmente aconteceu minha estreia acontecida no auditório do Parque das Ruínas. Acompanhei a expectativa de todos, acertos com a marcação, a luz, o som, o figurino... Eu tenso, certo de que, se alguém tivesse de errar ali, seria eu. Mas, quando o espetáculo começou, um ou outro cometeu sua falhazinha. Muito normal. Foi o nervosismo. Claro. Artista que se preze fica tenso na hora de entrar no palco. Se não fica... É de se duvidar. Durante a apresentação do Coralito, a descontração foi prevalecendo e tudo fluiu. Sucesso total. Sai depressa para fora na intenção de escutar o que o público dizia. Todos satisfeitos, elogiando o que acabavam de assistir.

“Viu só? Eles são maravilhosos. São bons demais”.

Agora, meu próximo desafio será acrescentar minha voz à gravação do cd. Acredito que ficará uma beleza. Espero não fazer feio.

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