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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Língua travada

Eu e minhas atrapalhações com nomes. Faz um tempinho, fui convidado a gravar jingle para Carlos Artexes, candidato na época a um cargo de diretoria na CEFET. Quando me apresentaram a música, senti um estranhamento e me pus a analisar a letra. Achei que não se encaixava direito com a melodia, questionei as rimas e me bateu vontade louca de mudar palavras, mas não poderia fazê-lo. E senti uma dificuldade para dizer “Vote no Artexes”. Se ao menos tivesse uma sílaba a mais... Para dar certo, eu teria que dar uma respiradinha e mandar ver. Essa foi a minha problemática. Avisei que já estava pronto para gravar. Ouvi a introdução. Era uma marchinha. E eu sai cantando todo animado, todo festeiro. Porém, no embalo, não pausei e mandei um... “Artaxerxes”. Luciano Badá que operava a mesa não percebeu. Os outros presentes, Murilo, Johnson, não notaram. Só se deram conta quando voltei ao refrão para cantar com alegria: “Vote no Artaxerxes, vote no Artaxerxes.” Badá interrompeu a gravação

Esqui na Quinta

Assistindo pela TV esses esquiadores descendo morro abaixo, recordo que já fiz coisa parecida, só que não no gelo de Sochi, mas na Quinta da Boa Vista. No lugar dos esquis, sandálias franciscanas.   Também vivi a emoção de pilotar um carrinho de rolimã numa ladeira do Méier, me lançar em tubo-água de parques aquáticos, botar o coração pela boca numa montanha russa do Tivoli e sair batendo o traseiro nas ondulações de um tobogã em Cabo Frio, de mãos dadas com minha amiga Janeth que, de tão apavorada, foi deixando um rastro de urina pela descida. Nesta manhã de sábado, peguei minha bicicleta e fui até a Quinta da Boa Vista recordar os piqueniques em família que fazíamos ali.  Eu era uma criança e os tempos eram outros. Muitas famílias faziam o mesmo, estendiam suas toalhas para espalharem nelas os sanduíches, garrafa de suco, água, bolo e frutas. Eu e minha irmã saíamos correndo pelo gramado, subindo e descendo as elevações, jogando miolo de pão para os peixinhos no lago. Bem

Amazônia salva

Hoje cedinho, um grupo de soldados passou por mim correndo em exercício e cantando: “Pa-papapa-papapa-para A nossa Amazônia ninguém pode invadir Pa-papapa, isso é que é Pa-papapa-papapa-para É tropa de elite, quer saber como é que é? Pa-papapa-papapa-para...” Era tanto “papapa-para” que eles foram indo, indo e eu não entendi mais nada. Fiquei sem saber como é que é. Pelo menos, ficou a satisfação de saber que nossa Amazônia está segura.

Notas do sábado em Copacabana

1.      Eu andando na calçada apressado, atrasado, num zigue-zague doido para driblar os passantes, a maioria, abobalhados com as caras nos celulares, parecendo um daqueles filmes de zumbis. Dentro do metrô, plataforma lotada pelo nosso povo inzoneiro que se agita assim que a composição chega. As portas se abrem e essa gente ausente de “predicativos”, enchinelada e feliz, realiza um empurra-empurra gostoso na disputa por um lugar. Uma mulher mal ajambradíssima com jeitão de caminhoneira, demonstrando sua boa educação de presídio, se esparramou num banco de dois lugares e falava aos berros gargalhantes com a amiga em preferiu ficar de pé. Ao meu lado, uma mãe atochando biscoito maisena goela abaixo da filha. E eu vendo a hora daquela criança vomitar. Tudo isso naquele calorzinho bom. Muita alegria. 2.      Ontem, Cine Roxy em Copacabana. O saguão ainda mantém algum glamour de outros tempos, mas alguns pedintes circulavam, gente oferecendo toalhinhas para as muitas senhoras na esper

A reputação ilibada

Todo bom professor sabe que é inevitável a popularidade trazida pelos anos no ofício. É muito comum serem abordados com frequência na rua, em restaurantes, teatros por algum aluno querendo saudar seu mestre. O caso que contarei agora se refere a um amigo, cujo nome não vou revelar. Ele é um ser humano maravilhoso, muito querido por todos, idolatrado por seus alunos, mas é tenso em demasia, sempre preocupado com sua integridade profissional. É um homem comprido na estatura, fala alto, gesticula muito, conversa tocando as duas mãos com as pontas dos dedos. Pois bem... Com a chegada do Carnaval, consegui convencê-lo a sair comigo, os dois vestidos de mulher no Bloco das Quengas, um bloco que desfila pela Rua Mem de Sá, circunda a Praça da Cruz Vermelha e termina nos Arcos da Lapa. Coloquei uma sainha azul curtinha, peitões e uma peruca cor de cenoura, minha fantasia de “Beta Caroteno”. Já meu amigo apareceu vestido numa camisola rosa e bolsa a tiracolo. Porém, usava uma máscara de ca

O filho de...

Assim que meu espetáculo terminou no Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola, formou-se uma grande fila para os cumprimentos. Eu apresentara ali um show com pérolas da nossa música, todas elas parcerias de Lamartine Babo, Alberto Ribeiro e Braguinha com um acompanhamento luxuoso de uma banda de craques formada por Patrick Angello (violão de sete cordas), Pedro Cantalice (cavaco), Sylvia Bastos (sax), Alexandre Bittencourt (flauta), Luiz Augusto Guimarães e Guilherme Dizzy nas percussões. Na plateia, além de amigos queridos, uma neta do Lamartine e minha prima Maria Cecília, filha do Braguinha. E eu lá cumprimentando as pessoas até que um casal veio (Nina e Andre), elogiaram o show e perguntaram se eu morava em Saquarema, porque me viram passar pela praia algumas vezes. Contei que tinha uma casa em Itauna e que estaria lá no dia seguinte bem cedo. Ao saberem disso, eles então me ofereceram carona. Também iriam porque haviam combinado encontro com amigos saquaremenses.