Língua travada
Eu e minhas atrapalhações com nomes.
Faz um tempinho, fui convidado a gravar jingle para
Carlos Artexes, candidato na época a um cargo de diretoria na CEFET. Quando me
apresentaram a música, senti um estranhamento e me pus a analisar a letra.
Achei que não se encaixava direito com a melodia, questionei as rimas e me
bateu vontade louca de mudar palavras, mas não poderia fazê-lo. E senti uma
dificuldade para dizer “Vote no Artexes”. Se ao menos tivesse uma sílaba a mais...
Para dar certo, eu teria que dar uma respiradinha e mandar ver. Essa foi a
minha problemática.
Avisei que já estava pronto para gravar. Ouvi a
introdução. Era uma marchinha. E eu sai cantando todo animado, todo festeiro.
Porém, no embalo, não pausei e mandei um... “Artaxerxes”.
Luciano Badá que operava a mesa não percebeu. Os outros
presentes, Murilo, Johnson, não notaram. Só se deram conta quando voltei ao
refrão para cantar com alegria:
“Vote no Artaxerxes, vote no Artaxerxes.”
Badá interrompeu a gravação.
- Beto. De onde você tirou esse “Artaxerxes”?
- Ih... Não é. Foi mal. Desculpe.
- Vamos de novo.
Recomeçamos. Eu, tenso, os olhos no papel, concentrado
na letra, o momento de dizer o nome Artexes chegando. Quando chegou...
“Vote no Artaxerxes, vote no Artaxerxes...”
- Aff... Errei de novo. O pior é que “Artaxerxes”
encaixa direitinho.
- Vamos lá. Fica ligado aí – pediu o Badá com seu
jeito de falar meio malandro e baixo.
Outro recomeço. Eu já suando frio. Firmei bem os olhos
no nome Artexes e disse:
“Vote no Artaxerxes, vote no Artaxerxes...”
Paramos. Foi uma gargalhada geral. Eu empacara naquilo.
Sai para respirar. Cheguei a chorar de tanto rir.
Estava nervoso com aquilo. Esperei um tempo e voltei mais calmo decidido a esquecer
do rei da Pérsia.
Colocaram a introdução. E eu iniciei a cantoria, mas
não com o mesmo entusiasmo de antes. E ao atingir o ponto fatídico, fiz a pausa
e pronunciei com segurança:
“Vote no Arxetes, vote no Arxetes”.
- Que Arxetes, Beto? Que Arxetes? É Artexes.
Que agonia. Artexes, Arxetes, Artaxerxes...
Parecia impossível, mas não foi. Finalmente, tudo deu
certo. Mas, até eu acertar, provoquei muito riso na turma porque, além daqueles
nomes que me vinham, também soltei umas bobagens na galhofa como raquetes, chacretes,
croquetes e outras coisas que é melhor não falar.
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