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Mostrando postagens de 2012

Literalmente na lama

Domingo de sol, eu com minha família no Governador Iate Clube na Ilha onde possuíamos uma lancha para nossos passeios de finais de semana. Meus pais haviam marcado com um casal um almoço de negócios lá. Minha avó paterna foi também, porque ficaria encarregada de tomar conta da gente enquanto o encontro acontecia. Meu pai combinou: “Mamãe. Só me apareça com as crianças no restaurante quando der meio-dia.” Meus pais sumiram pelo interior do clube. Eu com minha irmã, meu irmão ainda bem pequeno e minha avó ficamos de cá pra lá, de lá pra cá, tentando achar o que fazer, passando hora. Nós, acostumados apenas com roupas de banho e chinelos, para fazermos bonito junto ao casal ilustre, pela primeira vez circulávamos naquele lugar embecados com bermudas novas, camisas e sapatos com meias.  Minha avó, uma senhora humilde que não se importava com etiquetas, usava um vestido de florzinhas azuis bem simples, o melhor que ela tinha. Mas se sacrificava com sapatos que lhe apertavam os pés

A Assobiadora

Outro dia, estava no Supermercado Extra e ouvi um assobio forte e afinado entoando uma cantiga no corredor seguinte. Fui conferir e me deparei com uma senhora pequenina, muito vaidosa, pintadinha, tentando enxergar os produtos da prateleira mais alta. Aproximei-me para ajudá-la e elogiei o assobio. Ficara impressionado, principalmente pela emissão tão poderosa. Ela disse: "Tenho 83 anos, lavo, pas so, faço minhas compras sozinha, faço tudo sozinha. Sou feliz. Por isso vivo assobiando." "Sou frustrado", respondi. "Não sei assobiar." Eu a beijei e segui meu caminho. Meses depois, às vésperas das festas de final de ano, atravessando o Supermercado Mundial, escuto o forte assobio atrás de mim. Virei-me. Era ela. Sorrimos um para o outro e ela disse: "Tenho 83 anos, sou dinâmica, faço ginástica, faço..." "Já nos encontramos uma vez no Extra", interrompi. "E continuo fã do seu assobio. Não sei fazer." Acenei e sai dali pensando naqu

Um palpite infeliz

Certa vez, convidaram-me a participar de um show com outros artistas numa casa noturna na Zona Sul do Rio. Aceitei. Porém, desconhecia ou não me recordava da razão do evento. Ao chegar ao lugar bastante badalado, fui recebido pelo organizador, um produtor musical que chamarei de Tarcísio. Bastante caloroso, me deu um abraço e disse: “Que bom que você aceitou vir à minha festa. Tenho certeza de que escolheu um lindo repertório para mim. Fique à vontade.” Olhei em volta. Salão lotado de gente, gente em pé, gente sentada, muito falatório abafando a música ambiente. Indicaram-me uma mesa de canto, onde um consagrado compositor da Mangueira acabava de receber do garçom um copo de bebida: “Veja só... Uísque. Fazia tempos que não bebia esse troço.” E pediu que o rapaz pusesse uma rodela de limão no copo. Ele me informou que, naquela noite, salgadinhos e bebidas correriam por conta do tal produtor Tarcísio. “Mas afinal”, perguntei. “Qual a razão desse show aqui?” “Sincerame

A menina valente, o polvo e o assassino da praia

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  Quando meu pai comprou um terreno em Angra dos Reis, eu e meus irmãos ainda éramos crianças e, até então, vivíamos como “pudins de apartamento”, de casa para a escola, da escola para o clube, do clube para casa. Aquela aquisição prometia novidades, aventuras nunca dantes experimentadas. Nossa propriedade possuía três pequenos casebres cercados árvores frutíferas e uma densa mata descendo íngreme até as areias fofas e branquinhas da praia da Figueira. A expansão imobiliária ainda não havia chegado com força por lá. Nossa vizinhança diferenciava radicalmente uma da outra. À direita, uma pequena aldeia de pescadores com seus barcos coloridos, arrastões, tarrafas. À esquerda, um casarão de portas e janelas sempre fechadas bem no centro de um grande gramado com vários canteiros de plantas espinhosas. Havia também um cais. Imaginei ser ali uma mansão assombrada. Nossos três casebres eram distribuídos da seguinte maneira: o primeiro, logo ali na areia. Serviria para hospedar

Papai Noel camicase e a cantoria na sauna.

Durante o meu tempo como integrante do Coral da Riotur, vivenciei situações curiosas em nossas recitas, algumas muito boas, divertidas. Eu e meus colegas também experimentamos o insucesso, o constrangimento, a irritação após uma cantoria ruim. Isso faz parte, mas não merece consideração. Prefiro contar dois episódios, dois eventos natalinos que fomos convocados. O primeiro, num clube situado no Alto da Boa Vista, festa de final de ano da Riotur. Chegamos lá, cada um em seus carros. Nosso grupo se reuniu num jardim abaixo do pátio onde acontecia a festa com som alto, muita gente, fila para churrasco. Uma das coralistas mal-humorada ajeitou uma pochete enorme que trazia atravessada na barriga e reclamou do barulho. “Já não gosto de música, e agora sou obrigada a ouvir pagode?” Fiquei perplexo com o comentário. Não gosta de música? Enfim... Tem louco pra tudo. Mario Robert, nosso regente, demonstrou impaciência. Queria encontrar um lugar qualquer, um cantinho que fosse pa

Orgia sexual na piscina lá de casa

Em tempos remotos, a palavra orgia possuía outro sentido. Quando alguém se proclamava “da orgia”, queria dizer que era uma pessoa das noitadas, da folia, das festas. Depois é que a palavra teve outra conotação. Orgia virou sinônimo de bacanal, encontros promíscuos. Existe também a orgia alimentar. Dessa, já participei algumas vezes. Mas a que vou me referir agora é mesmo orgia sexual.  Sendo assim, não mencionarei aqui nomes para não gerar problemas futuros. Vamos lá. Um amigo do meu tio, que amargava há tempos o desemprego, conseguiu trabalho numa rádio de São Paulo e se entusiasmou com aquele mundo novo, desconhecido até então, porque passou a conviver com gente de música, mas também de outras artes. Num almoço natalino, ele relatava o seu dia-a-dia lá, a montagem da programação, a escalação de convidados e, de repente, perguntou se não cederíamos nosso lindo sítio perto de Campo Grande para a locação de um filme nacional. Meu pai não levou aquilo a sério. Até riu. “F

Recebido com honras por um presidente

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Nada como um terno e gravata para impor respeitabilidade. O sujeito pode ser o maior canalha da História, mas quando veste um terno e gravata... Eis aí os crimes de colarinho branco. Trabalhei desse jeito, todo embecado, por um tempo numa editora no centro da cidade. Lá eu era gerente comercial e cuidava da divulgação e venda de espaços publicitários num catálogo da FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Eu comandava equipe, distribuía tarefas, fazia relatórios, agendava visitas pelo telefone e saía em campo daquele jeito, terno escuro, uma gravata diferente a cada dia, óculos espelhado no rosto, mala de couro... Parecia mesmo um executivo enfatiotado, mas era apenas um simples vendedor de anúncios. Fiquei orgulhoso de mim quando, na primeira semana de trabalho, fechei contrato com um consultório médico. Um tijolinho apenas. Outros vieram depois. Consegui fechar anúncios de meia página também, alguns de clientes da Costa Verde. Graças a isso, fatur