A Assobiadora
Outro dia, estava no Supermercado Extra e ouvi um assobio forte e afinado entoando uma cantiga no corredor seguinte. Fui conferir e me deparei com uma senhora pequenina, muito vaidosa, pintadinha, tentando enxergar os produtos da prateleira mais alta. Aproximei-me para ajudá-la e elogiei o assobio. Ficara impressionado, principalmente pela emissão tão poderosa. Ela disse:
"Tenho 83 anos, lavo, passo, faço minhas compras sozinha, faço tudo sozinha. Sou feliz. Por isso vivo assobiando."
"Sou frustrado", respondi. "Não sei assobiar."
Eu a beijei e segui meu caminho.
Meses depois, às vésperas das festas de final de ano, atravessando o Supermercado Mundial, escuto o forte assobio atrás de mim. Virei-me. Era ela. Sorrimos um para o outro e ela disse:
"Tenho 83 anos, sou dinâmica, faço ginástica, faço..."
"Já nos encontramos uma vez no Extra", interrompi. "E continuo fã do seu assobio. Não sei fazer."
Acenei e sai dali pensando naquela senhorinha curiosa e na necessidade dela dizer sua idade e do que ainda é capaz de fazer. Seu assobio, em meio a tanta gente jovem e atarantada com as compras de Natal, era sua forma de dizer que ainda estava viva, que ainda é alguém.
"Tenho 83 anos, lavo, passo, faço minhas compras sozinha, faço tudo sozinha. Sou feliz. Por isso vivo assobiando."
"Sou frustrado", respondi. "Não sei assobiar."
Eu a beijei e segui meu caminho.
Meses depois, às vésperas das festas de final de ano, atravessando o Supermercado Mundial, escuto o forte assobio atrás de mim. Virei-me. Era ela. Sorrimos um para o outro e ela disse:
"Tenho 83 anos, sou dinâmica, faço ginástica, faço..."
"Já nos encontramos uma vez no Extra", interrompi. "E continuo fã do seu assobio. Não sei fazer."
Acenei e sai dali pensando naquela senhorinha curiosa e na necessidade dela dizer sua idade e do que ainda é capaz de fazer. Seu assobio, em meio a tanta gente jovem e atarantada com as compras de Natal, era sua forma de dizer que ainda estava viva, que ainda é alguém.
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