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Mostrando postagens de julho, 2014

Casos de vestidos

          Foi numa tarde de sábado no Marcô de Santa Teresa que conheci Sonia B recusando o oferecimento de Leila, a vendedora das famosas camisetas do bondinho. Sentei-me ao seu lado, ela sorriu, encheu meu copo de cerveja e disse: - Não sou de usar essas coisas. Tenho meu estilo. Faço a minha própria moda. Ficamos camaradas e passamos a nos ver com frequência naquela roda de choro comandada pelo Trio Perigoso, cuja formação era Patrick Angello no violão de sete cordas, Domingos Oliveira no cavaco, Guilherme Dizzy no pandeiro e participação de Dudu Oliveira na flauta. Um bom tempo depois, eu estava com Sonia B num brechó de Copacabana a fuçar roupas usadas. Meu interesse era mais de encontrar algum chapéu antigo, estiloso, algo diferente, mas, para homem, não havia quase nada ali. Só umas boinas sem graça e desbotados bonés de marca. No mais, acessórios femininos, bijuterias bregas, óculos horrorosos, bolsas, sapatos e pobres vestidinhos de alcinha. Foi num daqueles que me livr

Os miseráveis (pelo dia da vovó)

          Aconteceu num domingo de sol no Governador Iate Clube da Ilha, onde éramos associados e possuíamos uma lancha para as aventuras de final de semana. Meus pais no restaurante em conversa de negócios com um casal. Eu e meus irmãos, pequenos ainda, com nossa Vó Anita (Julia), encarregada de nos vigiar, enquanto zanzávamos por ali até a hora do almoço. Meu pai combinou o seguinte: “Mamãe. Só me apareça com as crianças no restaurante quando der meio-dia.” Era cedo ainda. Doidos por um mergulho, mas, pela primeira vez, sem os trajes de banho e os chinelos, teríamos que inventar algo, embecados, bermudas novas, camisas e sapatos com meias, uma exigência para fazermos bonito junto ao casal ilustre.  Um tormento aquilo. Nossa avó, senhora humilde que nunca se importou com etiquetas, meteu-se no mesmo vestido de florzinhas azuis simples, seu preferido. Ela, irredutível, não usaria outra coisa. Não adiantava dar-lhe roupas mais sofisticadas. Não usava. Também não abria mão da saco

Gente que a gente vê por aí

          Da entrada do sobrado, meu primo me chamou a atenção gritando: - Corre aqui! Corre aqui! Vem ver quem está passando! - O que foi? Quem é? - Olha lá! É o mosquito elétrico. - Mosquito elétrico? Na calçada oposta, um sujeito bem mirrado, boné escondendo os olhos, camiseta, bermuda abaixo dos joelhos, meias, tênis, bolsa a tiracolo, andava a passos largos, quase correndo. Parecia personagem da Disney competindo em marcha atlética. - Mas, ele... Ele é uma criança, não é? – perguntei. - Nada. Já é homem feito. - Jura? Qual será a idade dele? Enquanto questionávamos seu tempo, ele nem dava tempo. Ia longe até sumir no final da rua. Durante alguns anos, vimos o Mosquito Elétrico passar sempre com aquele jeito de menino assustado. Qual seria o motivo de tanta pressa? Colégio? Trabalho? Seria entregador? Outro que via e ainda vejo com certa constância, é um ruivo gordinho e sardento lembrando Ferrugem, aquele comediante mirim sumido. Porém, um Ferrugem sisudo, a

A velha do piano

          “Pelo galo não cantar, o dia não vai deixar de raiar”. Li em voz alta a frase retirada do livro “Almanhaque” do Aparício Torelli (Barão de Itararé). Tornei a repeti-la, enquanto Simone me trazia um copo com água. Eu acabara de chegar esbaforido ao seu apartamento em Ipanema. - Pronto. Eis a frase do nosso dia. Aquilo se convencionou. Todas as vezes que eu adentrava o apartamento dela, abria displicente aquele livro e colhia uma frase no rodapé da página, como uma forma de celebrar nosso encontro. Minha loura companheira de bagunças veio com a novidade: - Você não imagina o que eu descobri. Sabe o Cassino Atlântico? O shopping? - Sei. O que tem? - Tem uma velha tocando piano lá na meiuca de tarde. Achei graça daquela frase: “Uma velha tocando piano lá na meiuca”. Ela riu junto. - Um piano naquele shopping sem graça? - Vamos até lá ver? Que tal? Alayde vai também. Já deve estar chegando. Topei, apesar de surpreso. Simone não era muito fã de sair com dia cla

Três festas, quatro penetras e um sumido

          Em plena época de copa do mundo e festas juninas, isso há alguns anos atrás, uma amiga me fez convite inusitado: participar com outros de uma sessão de fotos, trabalho da faculdade de comunicação, na Floresta da Tijuca e em plena madrugada. A ideia era sairmos em caravana de quatro carros até a estrada das Canoas, onde escolheríamos o melhor lugar para a locação. Tremi só de imaginar o risco, mas aceitei. Por volta das oito da noite de sexta-feira, eu me juntei ao grupo dos escolhidos na Praça General Osório em Ipanema. Fui logo encaminhado até um dos carros, uma Kombi abarrotada de figurinos inusitados, onde me enfiaram dentro de um colan azul bebê justíssimo do pescoço até os pés com sunga de banho por cima, luvas de couro, botas, um poncho gaúcho azul marinho se enrodilhando pela frente até os ombros e um chapéu de veludo preto. Um ridículo super-herói paladino dos pampas. No lugar de máscara, uma pasta d’água cobriu meu rosto e ganhei olheiras. Um sangue de batom escor