Postagens

Mostrando postagens de abril, 2013

Bichos fora do lugar

Comentei com uma tia que eu achara uma graça a calopsita no ombro de uma amiga em pleno carnaval na Praça São Salvador. Dias depois, essa tia veio me visitar trazendo uma gaiola grande com três agapornes. Disse ser presente de uma amiga e, sabendo que eu gostara do pássaro da amiga, resolveu repassá-los para mim. “Isso aí não é calopsita.” “Ah... É tudo a mesma coisa.” Os bichos gritavam tanto, tanto, tanto... E a sujeirama que faziam? Aceitei o inesperado presente, mas não aguentei dois dias. Chamei Gerson, o zelador do meu prédio, e pedi que arrumasse quem os quisesse. Depois me lembrei de ligar para o zoológico para doá-los. Tentativas infrutíferas. Gerson levou os bichos embora. No dia seguinte, acordei bem cedo com os agapornes gritando. Achei que era pesadelo. Não era. Olhei pela janela da cozinha que dá para o térreo do edifício ao lado, a casa do porteiro habitado por gatos, cães, tartarugas e passarinhos. E lá estava a gaiola com os agapornes gritando,

Calopsitas, papagaios e galinhas temperamentais

Fui até a casa do amigo Johnson Mayer, onde parentes e amigos comemoravam com alegria e música o seu aniversário, e me deparei com uma calopsita levada pela filha dele. Alguns experimentaram desfilar com aquela ave no ombro. Eu até pensei a respeito, mas achei melhor não arriscar, evitar um beliscão. Lembrei-me imediatamente de um domingo, carnaval de 2009, quando encontrei uma amiga na Praça São Salvador toda feliz com sua calopsita. O bicho, acostumado solto, se comportava com tranquilidade no meio do agito dos foliões. Tenho pena dos animais que são criados aprisionados. Não gosto de aquários, tampouco gaiolas. Uma amiga, que comunga da mesma opinião, um dia, herdou da irmã um papagaio. Não teve coragem de prendê-lo. Acostumou-o a viver solto no apartamento. Até aí, tudo bem. A questão é que o bicho lhe tem verdadeira paixão e detesta quem dela se aproxime. Ataca. Logo, ela não pode receber visita de ninguém. Em viagem à Cumuruxatiba, conheci um comerciante de frutas e ver

A praia dos cachorros

A praia do Diabo, que existe ali coladinha com a Pedra do Arpoador, durante um bom período, ficou liberada para o banho e lazer dos animais domésticos. Com muita frequência, eu montava na minha bicicleta e ia com Uly, minha cachorra doberman  até lá. Ela sempre correndo rente a mim. Saíamos de Botafogo, atravessávamos o túnel para Copacabana, seguíamos por toda a ciclovia da Avenida Atlântica até chegarmos naquele comecinho de Ipanema, a praia “dos cachorros”. E lá, nossa série de brincadeiras: cavar na areia, jogar bolinha e mergulhar no mar. Se as ondas estivessem altas, Uly não entrava. Ficava na beira latindo muito, nervosa comigo. E quando eu voltava, a inevitável mordida no meu calcanhar, como repreensão. Naquele espaço havia todo tipo de raça canina, dos menores aos enormes: pinschers, cockers, labradores, rothweillers... Havia um pastor alemão temido por todos. Era feroz e avançava em qualquer coisa que se mexesse. Chegou a morder uma senhora e atacou um cãozinho indefeso

A índia do metrô

Fazia tempo que eu não saía para pedalar, uma prática que adoro e que me ajuda a afugentar qualquer melancolia, essa tristezinha que dá na gente, aquela vontade de conversar com alguém, pedir colo. Bicicletar ajuda muito. Uma tarde linda se fez pela orla, um friozinho gostoso. Terminado o passeio, embarquei no metrô de volta à Tijuca. Sentado, agarrado ao guidão da minha bicicleta com o pensamento nem sei onde. De repente, bem na minha frente, uma senhora de pele cor de café, cabelos muito longos, jeans, jaqueta, bolsa, sandálias de salto. Bonita, jeitão alegre. Uma índia. Ao seu lado, uma moça com uma criança num carrinho. Não tinham qualquer ligação. Mas, encantada com o pequeno, a índia começou a brincar com ele, dizendo coisas, fazendo-o sorrir. Fiquei envolvido com aquela cena, acompanhando o seu jeito, seus braços fortes nos breves embalos no carrinho.  Logo, me veio na cabeça um romance que escrevi contando a história de um menino inocente diante da sabedoria de sua avó in

Mensagem de amor sob pressão

Imagem
A primeira vez em que estive em Muriaé, foi para cantar num lugar chamado Primeiro Passo a convite de um amigo.  Naquele barzinho, na época o mais badalado, conheci as adoráveis irmãs Monica e Nanda Castro Mayrink. No meu segundo retorno àquela cidade, elas me obrigaram a deixar o hotel para me hospedar na casa delas, onde conheci o divertido pai Tupiara, o gozador irmão Serginho e a amorosa mãe Maria Lúcia, conhecida por todos pelo apelido de Gaucha. Naquela casa, premiado com o carinho daquela gente, eu me senti mais um membro da família, um parente distante que era recebido com festa. Minhas viagens à Muriaé tornaram-se constantes. Travava contato com pessoas interessantes, divertia-me nas noitadas a beber vinho e ouvir causos engraçados, adorava encerrar a noite comendo o podrão da praça. A feira agropecuária do sete de setembro era uma festa. Numa das minhas idas, levei o amigo Zé Luiz e duas garotas, Eliane e Cristina. Foram igualmente bem recebidos pela boa famíl

Viva Cazuza!

Imagem
Lembrei-me de uma conhecida que era louca pelo Cazuza.  Colecionava fotos, ouvia muito suas músicas, acompanhava cada um dos seus passos, não perdia um show sequer. Fã incondicional. Quando propuseram na faculdade que fizesse um trabalho biográfico sobre algum artista, ela não pensou duas vezes: seu ídolo Cazuza. Pesquisou, investigou, tanto fez que conseguiu o telefone do cantor. Ligou por volta do meio-dia. Ele atendeu e ela fez voz de fofa para dizer: "Oi, Cazuza. Sou sua fã e queria fazer uma entrevista com você pra um..." Ele não deixou que concluísse. Gritou: "ORA! VÁ TOMAR NO @#!!!" E bateu o telefone. Ela chorou muito. Seu ídolo maior havia lhe mandado tomar naquele lugar. Chorou, chorou, chorou por muito tempo. Não sabia se continuava mais a ouvi-lo. Acho que ficou um tempo sem tocar seus discos. Quanto a faculdade, não sei que trabalho ela fez. Talvez tenha escolhido Silvio Caldas. Pelo menos, um morto não a mandaria tomar no @#.