A pianista do shopping
“Pelo galo não cantar, o dia não vai deixar de raiar”. Li em voz alta a frase retirada do livro “Almanhaque” do Aparício Torelli (Barão de Itararé). Tornei a repeti-la, enquanto Simone me trazia um copo com água. Eu acabara de chegar esbaforido ao seu apartamento em Ipanema. - Pronto. Eis a frase do nosso dia. Agora podemos agitar por aí. Aquilo se convencionou. Todas as vezes que eu adentrava o apartamento dela, abria displicente aquele livro e colhia uma frase no rodapé da página, como uma forma de celebrar nosso encontro. Minha loura companheira de bagunças veio com a novidade: - Você não imagina o que eu descobri. Sabe o Cassino Atlântico? O shopping? - Sei. O que tem? - Tem uma senhora bem idosa tocando piano lá na meiuca da tarde. Achei graça daquela palavra meiuca”. Ela riu junto. - Um piano naquele shopping sem graça? - Vamos até lá ver? Que tal? Vamos chamar a Alayde. Topei, apesar de surpreso, porque Simone não era muito afeita em sair com dia