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Mostrando postagens de julho, 2013

Meus avós

Não conheci meu avô paterno. Faleceu antes do meu nascimento, antes mesmo do casamento dos meus pais. Chamava-se Duílio Caratori, era tintureiro, austero, calado, vivia para o trabalho. Mas dizem que teria sido um bom avô. Já o outro, pai de minha mãe, convivemos muito pouco com ele. Morava numa chácara escura cheia de plantas e cachorros em Jacarepaguá. Nós o víamos às vezes no Natal. Vinha, entregava presentes, nos beijava, sempre se atrapalhando com nossos nomes, e ia embora rápido. Eugenio era funcionário da rede ferroviária e compositor de músicas românticas. Era amigo do Lamartine Babo, da Carmen Miranda, do Ary e de tanta gente. Viveu por mais de quatro décadas em Jacarepaguá na companhia de Dora, mulher de temperamento forte que se foi antes dele. Anos depois, sozinho, foi encontrado no sofá com o braço estendido na direção do telefone. Enfarto. Minha avó Nadina nunca se conformou com a separação acontecida quando minha mãe tinha apenas treze anos. Não sei se esta foi a razã

O presente inesperado

Aproveitando a ocasião do dia 20 de julho em que falam ser esse o dia do amigo, cito duas amigas queridas: uma é Maria de Lourdes, que aniversaria justamente neste dia. Ela me surpreendeu com sua ligação para dizer que mora agora em Viçosa e que está enxutérrima, feliz curtindo seus oitenta e dois anos. Lourdes esbanja juventude e alegria. A outra amiga é Simone, que completaria mais um ano de vida no dia 25 deste mês. Este aniversário, ela comemora agora em outras esferas. Lembro-me bem daquele domingo de sol, João Alexandre, filho dela, me ligou pedindo que eu o acompanhasse até o apartamento deles, porque não tinha coragem de entrar lá sozinho. Precisava desmontá-lo de vez, organizar algumas coisas pendentes antes de alugá-lo. As roupas dela já haviam sido doadas para uma instituição de caridade. Encontro com ele no calçadão da praia de Ipanema, pouso a mão sobre seu ombro e saímos conversando, vendo o povo na areia. Quando conheci Simone, João era um menino bem mirrado, seu ir

Cantando o Brasil

Era sexta-feira, dia 06 de outubro de 2000, mais uma noite de cantoria no Clube Militar da Lagoa. Uma chuva forte caía sobre o Rio de Janeiro. Eu no interior do ônibus 409 paralisado por um engarrafamento gigantesco na Rua Jardim Botânico. No assento do lado oposto, um sujeito magro de óculos me observava, analisava meu visual, eu todo arrumado, de chapéu panamá na cabeça e um cavanhaque acidental por uma barba mal feita que me dava certo ar cafajeste. Ele não resistiu a pergunta: “Você é nordestino, não é?” Achei engraçado aquilo. “Não. Sou daqui mesmo.” “Ah é? É que sou fotógrafo e observo as pessoas. Eu achei...” “Sou carioca da gema”, reforcei. “Mas é cantor, não é?” “Sim. Estou indo agora cantar.” “Cantor de forró, acertei? Acho que já vi você e seu conjunto na televisão.” Não segurei o riso. “Olha... Eu até canto forró, mas não é minha especialidade.” Ele se desculpou do engano, mas continuou a me observar, talvez, não convencido das minhas respostas. Impaciente, abri