Meus avós
Não conheci meu avô paterno. Faleceu antes do meu nascimento, antes mesmo do casamento dos meus pais. Chamava-se Duílio Caratori, era tintureiro, austero, calado, vivia para o trabalho. Mas dizem que teria sido um bom avô. Já o outro, pai de minha mãe, convivemos muito pouco com ele. Morava numa chácara escura cheia de plantas e cachorros em Jacarepaguá. Nós o víamos às vezes no Natal. Vinha, entregava presentes, nos beijava, sempre se atrapalhando com nossos nomes, e ia embora rápido. Eugenio era funcionário da rede ferroviária e compositor de músicas românticas. Era amigo do Lamartine Babo, da Carmen Miranda, do Ary e de tanta gente. Viveu por mais de quatro décadas em Jacarepaguá na companhia de Dora, mulher de temperamento forte que se foi antes dele. Anos depois, sozinho, foi encontrado no sofá com o braço estendido na direção do telefone. Enfarto. Minha avó Nadina nunca se conformou com a separação acontecida quando minha mãe tinha apenas treze anos. Não sei se esta foi a razã