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Mostrando postagens de 2009

Coisas do Brasil

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Dia seis de outubro de dois mil. Era uma sexta-feira. Aquela foi uma das noites mais curiosas que já vivi nessa estrada de cantorias por aqui e acolá. Chovia a cântaros e eu me encontrava todo arrumado, chapéu na cabeça, dentro do ônibus 409 parado num engarrafamento no Jardim Botânico, atrasado para ir cantar na varanda do Clube Militar da Lagoa. Atrasei-me muito por conta do caldo verde que oferecera horas antes a um casal de amigos e pelas crateras que tinha feito na barba, ao tentar apará-la, com a habilidade e a delicadeza de um lenhador. Resultado: acabei tirando tudo e deixando um cavanhaque ridículo que me dava um ar meio cafajeste. Um cara magrinho de óculos sentou ao meu lado no ônibus, deu uma conferida no meu visual e não resistiu: “Desculpa perguntar... Sou fotógrafo e observo as pessoas. Você é cantor?” "Sim". “E é do nordeste, não é?” “Não sou não. Mas adoro o povo nordestino.” “Mas você assim de chapéu... Achei que fosse cantor de forró.” “Ol

Recordando Simone III

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Há algum tempo, nos falávamos apenas por telefone. Simone andava indisposta, dizia passar muito tempo deitada, mas não queria entrar em detalhes. Apenas garantia que, em breve, estaria em forma novamente. "Sou uma fortaleza, se esqueceu?" Avisei que iria até lá para uma visita. Há muito tempo não promovíamos mais aqueles nossos alegres encontros, com direito a vinho, pizza, música e as frases engraçadas colhidas do “Almanhaque” de Aparício Torelli, o Barão de Itararé. Ela recusou. Queria ficar um tempo só. Tive que respeitar sua vontade. E assim foi. Eu ligava umas três vezes na semana para contar sobre o meu dia-a-dia, dizer coisas engraçadas, falar detalhes de um show que fiz em Botafogo, lamentando a ausência daquela que se auto-intitulava líder do meu fã clube. Ela, num claro desânimo, não correspondia às brincadeiras, como de costume. Por ocasião do falecimento do meu pai, me pediu milhões de desculpas por não ter comparecido ao velório, porque estava com mui

Recordando Simone II

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Diante da porta do apartamento, João meteu a chave no trinco e avisou que tudo estava uma grande desordem. A sensação que tive ao entrar ali não foi nada boa. Os discos, as gravuras emolduradas, caixas e mais caixas... Tudo pelo chão. As paredes com as marcas dos quadros e os pregos revelados. Tão diferente do cenário que eu conhecia tão bem No quarto de Simone, ainda intacto, as portas do armário abertas a mostrar aquelas roupas ainda arrumadas do jeito dela, mas que, em breve, sairiam todas de uma só vez para uma instituição de caridade. Voltei os olhos para a sala, num desejo de que as coisas todas voltassem aos seus devidos lugares, recuperar aquele antigo refúgio onde nos deixávamos ficar por horas e horas tagarelando nossas bobagens, ao som de boa música, saboreando vinho barato. Também conversávamos coisas sérias, questionávamos nossas vidas, falávamos de amores, família e morte. Fizemos aquele manjado pacto do “Quem desencarnar primeiro, dará um jeito de avisar ao outro”. Minha

Recordando Simone I

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Numa ensolarada tarde em Ipanema, eu e João Alexandre seguimos pelo calçadão rumo ao apartamento vazio, onde ele morou por alguns anos com sua mãe, minha querida amiga Simone. Ele pediu-me que o acompanhasse, porque ainda não se sentia emocionalmente seguro para estar lá sozinho e organizar as caixas, as roupas e objetos a serem doados para uma instituição de caridade. Olhando um ônibus repleto de turistas, contei a ele o passeio que eu e sua mãe fizemos uma vez, num tipo de transporte que circulou por um tempo pela orla chamado de “jardineira”, todo envidraçado, cujo percurso era Urca – São Conrado. Mal embarcamos na jardineira e eu passei a representar o papel de marido possessivo, ciumento. Eu a repreendi em voz alta, chamando-a de mulher gastadeira, trambiqueira, maloqueira e que me obrigava a fazer passeios caros como aquele. Os passageiros se distraíram com nosso teatro. Simone pouco respondia. Corada, só fazia rir. Depois, me fazendo de mais calmo, provoquei uma cantoria que aca

Perigo real e iminente em show beneficente

Estava eu no sítio com meus pais, quando o compositor Homero Ferreira me ligou convidando para participarmos de uma grande festa no Clube Vitória, no Lins, um show beneficente para deficientes visuais. Não seríamos os únicos, porque também iriam outros artistas. “Quando é?” “Hoje. Daqui a pouco.” “Puxa... Terei que voltar ao Rio, ir até em casa e colocar uma roupa mais adequada.” “Mas não há tempo.” De fato, não daria mesmo. Eu estava com uma calça comprida jeans surrada e uma camisa um pouco manchada e com furinhos do muito tempo de uso. Pensei com meus pobres botões: “Um show pra cegos... Ninguém vai reparar na minha roupa.” Decidi ir daquele jeito. Chegamos ao Clube Vitória com meia hora de vantagem. O show estava previsto para começar às nove. Conosco, um violonista de nome Fernando. Entramos. Logo o presidente do clube veio nos receber com muita alegria e nos conduziu até o ginásio, local onde aconteceria tudo. Olhei ao redor. Estava cheio, arquibancada

Que

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"Que nada me aconteça antes de chegado o tempo nem antes que feneça a fina flor ao vento. Perceber o próprio esvair ao contato do sereno que toma forma na pele exposta, nua, ao relento, é, em verdade, esperar que mágico nasça o sol, vertente de luz e calor fecundos, para secar, mais rápido que a mente o que me isola do mundo." (Pedro Fernando Vaz - em setembro de 1982)

Versos para Saquarema

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"Quando eu componho um poema Ele tem cara de sonho Mas quando ponho no esquema A realidade transponho E me transporto à praia Logo me bate um dilema Será que é sonho de novo Ou eu estou em Saquarema?" (Kadu Mauad)