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Mostrando postagens de março, 2014

Arroz pilaf e muita polêmica

Minha expectativa era de que seria um réveillon bem divertido, mas, misturar gente diferente nem sempre é um bom negócio. Era a passagem de 1993 para 1994. O destino: a casa de praia da minha família num condomínio em São Pedro d’Aldeia. A ideia era ficarmos uma semana. O grupo: eu, Mauricio Karam, as fisioterapeutas Tania, com o filho Lucas, e Fátima Rosalina, com o marido Carlos, as amigas Moniquinha, Juju, Priscila e Vavá e uma francesinha que aprendia português na Aliança Francesa chamada Karine. Karine levou seu irmão adolescente Nicolas. Também Bernard, um francês simpático e maduro na idade, com uma acompanhante. Esses dois, já seguiam para lá de ônibus. Para completar o grupo, minha cadela Uly. A caravana de carros deixou o Rio de Janeiro na manhã de quinta-feira (30) e já, durante a viagem, percebi que teríamos problemas, porque os irmãos franceses começaram a reclamar da presença da minha cachorra, obrigados a dividirem o assento de trás com ela. Não gostavam de bichos

O lorde e a dama da Voluntários

Durante meus estudos na Aliança Francesa, conheci, em momentos distintos, duas pessoas adoráveis, colegas meus de sala, os dois regulando na idade, a idade dos meus pais. Um deles, um senhor magérrimo, pele bem negra, trajando terno azul marinho, caneta esferográfica espetada no bolso da camisa, mantinha-se na carteira com as pernas cruzadas, as mãos sobre o joelho. Conquistou-me com seu sorriso gigante. Logo, já estávamos lado a lado em conversas “en cachette”. O carismático Vicente Paulo, com o correr dos dias, transformou-se em Vincent, afrancesamento instigado pelo nosso professor Juan, um uruguaio engraçado, meio maluco que desaparecia de vez em quando, por também ser guia de turismo. Jeito de falar revelando origem humilde, Vincent era um verdadeiro lorde. Sempre elegante, educado, atencioso com os colegas, organizava grupos de estudos uma hora antes da aula com os que, assim como ele, tinham dificuldade com a lição dada, principalmente quando Juan sumia e era substituído

Beto e sua banda, o grande equívoco

Esse causo aconteceu bem no comecinho da minha história como cantor, quando eu ainda era bem inexperiente. Certo dia, recebi a ligação de um sujeito se apresentando como Luizinho de Muriaé (MG) e dono de uma nova casa noturna. Foi logo avisando que a indicação fora das meninas Castro Mayrink, minhas queridas amigas e irmãs Nanda e Kinha. Luizinho precisava com urgência de artistas de fora da cidade como atração da recém-inaugurada casa. Contei a ele que eu já me apresentara num barzinho, o Primeiro Passo, que foi, por muitos anos, o mais badalado de lá. - É isso – afirmou ele – É esse o esquema que eu quero. O que você costuma cantar? Falei então do meu repertório de músicas românticas próprio para barzinhos, e ele do outro lado em silêncio. Mas, não sei explicar, tive a sensação de que o cara se abstraíra de repente, não muito ligado no meu relato. Eu o escutei comentar algo com alguém que devia estar ao seu lado. Depois respondeu qualquer coisa a outro. Barulho de pratos, louça,

Fotos de shows

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Ainda sobre um passado da Tijuca

Minha mãe me conta que se podia brincar na rua até mais tarde. Brincava-se de pique, amarelinha, queimado, tamborete, muitas das vezes no final da Rua Soriano de Souza, que era sem saída e onde havia a galeria Skyi e e o Cine Tijuca Palace. Ela se lembra das idas com as irmãs e amigas aos muitos cinemas. De lá, confeitaria. De vez em quando, um tio-avô aparecia com cavalos e a garotada cavalgava pela Rua General Roca e arredores. Constantemente passava o vendedor de pirulitos caramelados e cones de biscoitos que se desmanchavam na boca. Ele vinha batendo um ferrinho, fazendo “ling-ding, ling-ding”. Do que eu me lembro, íamos muito ao Bob's que ainda existe ali na esquina da Rua General Roca com Santo Afonso, que não se ligava com a Rua Professor Gabizo. Simplesmente um trecho que se tornava chão de terra terminando num muro de mangueiras e casas da   até então oculta Soriano de Souza. Os carros paravam enviesados para o povo lanchar no Bob's, onde o que mais se pedia eram os

A casa da esquina

Voltando da Praça Saens Pena, eu e minha irmã, bem pequenos, íamos de mãos dadas com nossa tia Célia pela Rua General Roca, quando avistamos Vitória, uma negra mendiga em pleno surto, indo de cá para lá falando sozinha, gesticulando na calçada oposta. Minha tia não resistiu e gritou: - Vitória maluca! Ao ouvir aquilo, a mulher nos fuzilou com ódio e retribuiu: - Sua branca azeda! Aquilo já fazia parte de uma relação de muitos e muitos anos entre as duas. Desde menina, minha tia adorava atiçar a coitada, uma crueldade típica de criança travessa que ainda se fazia constar. Mas aquele não era um bom dia para a tal brincadeira. Repetiu a provocação: - Vitória maluca! - Você vai ver só, sua branca azeda – ameaçou a mendiga – Você hoje não me escapa. Agarrou um pedaço enorme de pau que havia por ali e veio ameaçadora na nossa direção. Entramos em pânico e desatamos a correr. Só que eu e minha irmã eramos muito pequenos, portanto, seríamos facilmente alcançados. Conseguimos atr

Um estranho aviso

O rádio sobre a mesa de escritório anunciava a estreia do balé Quebra-nozes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Sentada diante dele, Regina, sempre a borboletear a esferográfica, diminuiu o volume do aparelho, desviou os olhos de uns papéis para mim que estava bem ali na sua frente e mandou o comentário: - Você acredita que nunca vi um balé na vida? - Acredito. - Topa ver esse aí comigo? - Sim. Topo sim. Regina levantou-se bruscamente e saiu da sala carregando uma papelada. Ouvi sua voz a ecoar ordens pelas paredes altas do velho sobrado que havia bem no início da Rua do Lavradio, quase esquina com a Mem de Sá. Era uma gráfica especializada em banners, mas que também fazia impressões em todo tipo de material além do plástico: ferro, vidro, madeira... Conheci Regina graças aos meus trabalhos de criação como free-lancer. Recorri àquela gráfica para executá-los e acabei por estreitar amizade com ela, que comandava a empresa com energia, autoridade, mas mantinha ótima relaç