Notas do sábado em Copacabana

1.      Eu andando na calçada apressado, atrasado, num zigue-zague doido para driblar os passantes, a maioria, abobalhados com as caras nos celulares, parecendo um daqueles filmes de zumbis. Dentro do metrô, plataforma lotada pelo nosso povo inzoneiro que se agita assim que a composição chega. As portas se abrem e essa gente ausente de “predicativos”, enchinelada e feliz, realiza um empurra-empurra gostoso na disputa por um lugar. Uma mulher mal ajambradíssima com jeitão de caminhoneira, demonstrando sua boa educação de presídio, se esparramou num banco de dois lugares e falava aos berros gargalhantes com a amiga em preferiu ficar de pé. Ao meu lado, uma mãe atochando biscoito maisena goela abaixo da filha. E eu vendo a hora daquela criança vomitar. Tudo isso naquele calorzinho bom. Muita alegria.

2.      Ontem, Cine Roxy em Copacabana. O saguão ainda mantém algum glamour de outros tempos, mas alguns pedintes circulavam, gente oferecendo toalhinhas para as muitas senhoras na espera da sessão. E um sujeito maltrapilho, fedorento surgiu de repente circulando no meio daquela gente elegante e perfumada. Foi abordando todo mundo, intimidando as pessoas, provocando o pânico. Parecia bêbado, drogado, ria com sua boca de poucos dentes, gesticulava reclamando com cada negativa e quis entrar numa das salas.. Os funcionários atordoados custaram a tomar atitude. Até que, finalmente, um segurança apareceu e o retirou de lá. E todos retornaram à sua felicidade.

3.      Cada um com seu glamour. Enquanto Rosa Passos encantava o público nas areias da praia na altura da Rua Constante Ramos, em outro ponto, na esquina de Siqueira Campos com Avenida Copacabana, uma senhora cantava num videokê uma dessas músicas breganejas e arrancava aplausos dos curiosos com voz afinadíssima.


4.      Embarquei na estação do metrô da Siqueira Campos cantarolando “Saudades da Bahia”, influenciado pelo maravilhoso show da Rosa Passos que eu acabara de ver. Durante a viagem de volta para a Tijuca, na minha frente, uma mulher enxugava as lágrimas com a gola da camisa, enquanto conversava baixinho com outra, que devia ser irmã dela, de tão parecidas. Por conta daquilo, comecei a cantar Vinícius em volume meio audível: “Pra que chorar, se o sol já vai raiar, se o dia vai amanhecer? Pra que sofrer, se a lua vai nascer, se é só o sol se por? Pra que chorar se existe amor...” 
As duas ficaram quietas olhando para o chão como que meditando. Até que a chorosa olhou pra mim confirmando que ouvia o que eu cantava e disse: 
- Não vou chorar mais hoje não, tá? 
E sorriu.

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