Viva Mario Pereira, grande amigo, maravilhoso saxofonista

Mário Pereira

Por Beatriz Fontes.
Capixaba de Muqui, Mário Pereira veio para o Rio aos quatro anos de idade, para morar no Borel (Tijuca). Cresceu ouvindo o violão de seu pai, a sanfona de oito baixos de seu avô materno e o cavaquinho de seu tio. Ainda criança, aprendeu a apreciar a música de Ratinho, Pixinguinha, Severino Araújo, Luis Americano, entre outros. Segundo Mário, como não havia luz elétrica lá no morro, as pessoas acabavam aproveitando a lamparina e a luz do luar para fazerem reuniões musicais.
Mário começou tocando flautinhas de taquara, que ele colhia na região, aos quatro anos. Ele conta que seu primeiro contato com uma flauta de verdade se deu numa Folia de Reis, comemoração bastante comum na época. Por conta disso, pediu ao pai que lhe comprasse uma flauta de lata, na feira e, de posse desta, saiu tocando uma música de Luiz Gonzaga, chamada “Vida Ingrata”.
Vendo que o filho levava jeito com o instrumento, o pai decidiu levá-lo para ter aulas de música numa igreja local. O professor, então, apresentou-o ao clarinete e, vendo a facilidade do garoto com este, ensinou-lhe algumas escalas. Disse-lhe que estudasse bastante, insistisse naquilo. Porém, chegando em casa, Mário logo se cansou de só tocar as escalas e saiu tocando os hinos da igreja de ouvido mesmo. Tal atitude lhe valeu um belo sermão: “Eu mandei você estudar as escalas, não era pra já sair tocando!”, lembra Mário Pereira, divertido.
Morou na Tijuca até os 27 anos, quando perdeu os pais e resolveu mudar-se para Bangu. Nessa época, Mário já tocava clarinete na rádio Mayrink Veiga e integrava o grupo Os pingüins de Bangu (formado por mais três músicos, que tocavam violão, cavaquinho e pandeiro). Com eles, Mário diz ter aprendido muitas coisas, pois apesar de tocarem num programa de choro, eles estudavam vários ritmos (nacionais e internacionais). O talento de Mário Pereira foi descoberto no programa Oportunidade Neno, apresentado por Fernando César, na rádio Mayrink Veiga. Sua permanência na rádio durou de 3 a 4 anos, até esta ser fechada pela ditadura militar.
Foi tocando na rádio que conheceu Canhoto (cujo famoso regional era exclusivo da rádio Mayrink Veiga), que o levou para a gravadora CBS. Lá, nos anos 60 e 70, Mário gravou 6 LPs como solista, acompanhado pelo Regional de Canhoto e com a participação de Orlando Silveira, Dominguinhos e Tião Neto. Em 1964, viajou para a Argentina com o Trio Icaraí. E, no carnaval de 1969, negociou com um colega o seguinte: um sax em pagamento pelas suas apresentações no Sindicato dos Metalúrgicos. Desde então, além de flauta e clarinete, passou a tocar sax.
Em 1984, quando tocava com o Regional do Edu, uma casa de espetáculos convidou-o a formar seu próprio regional: Mário Pereira e seus chorões. Com isso, passou a só se apresentar com seu regional ou com sua banda. Entre 1987 e 1995, participou da banda A voz da Muda (na Tijuca) e, além disso, fez parte da banda da Guarda Municipal. O multiinstrumentista Mário Pereira só veio a estudar teoria musical depois de muitos anos de estrada. Entre seus professores, destaca Raimundo e Paulo Moura (que lhe deu aulas de sax alto). Mário trabalhava também como professor, dando aulas em casa e no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa.
Além de seus seis LPs, Mário Pereira criou um CD independente, Gafieirando, gravado por iniciativa de sua esposa, Anna Maria (que vendeu um apartamento em São Cristóvão para isso) e de vários amigos, que ajudaram comprando antecipadamente. Mário já estava sem gravar havia 27 anos, quando o CD foi lançado, em 1997. Um pouco antes de morrer, em fase de produção, Mário preparava-se para lançar seu segundo CD independente.

Mário Pereira já tocou com Marion Duarte, Jamelão, Moreira da Silva, Raul de Barros, Dominguinhos, Tião Neto, Orlando Silveira, Dino 7 Cordas, Jaime Florêncio (Meira), Zé da Velha, Camunguelo, Cartola e muitos outros.

Obs.: Texto produzido para a homenagem mensal do grupo Abrindo o Berreiro, no Bar dos Chico’s (Maracanã - Rua General Canabarro 119), em 27 de julho de 2003. Escrito a partir de entrevista feita com Mário Pereira em seu apartamento, na Gávea".


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