Trem da madrugada (do cordelista Azulão)
Leitores trago mais uma
Criação muito engraçada
Da minha lira poética
Que sempre vive afinada
Desta vez descrevo bem
O movimento do trem
Que desce de madrugada
Da minha lira poética
Que sempre vive afinada
Desta vez descrevo bem
O movimento do trem
Que desce de madrugada
Seja de Paracambi
São Mateus ou Santa Cruz
A turma da fuleragem
Que só bagunça produz
De madrugada só quer
Carro que tem mais mulher
Porta enguiçada e sem luz
São Mateus ou Santa Cruz
A turma da fuleragem
Que só bagunça produz
De madrugada só quer
Carro que tem mais mulher
Porta enguiçada e sem luz
Mulher de anca bem gorda
Diz o cabra, esta é legal
Que a coitada passa mal
Dá bronca, dá coice e upa
O cabra tá na garupa
Só desmonta na Central
Diz o cabra, esta é legal
Que a coitada passa mal
Dá bronca, dá coice e upa
O cabra tá na garupa
Só desmonta na Central
Não adianta dar bronca
Nem reclamação, nem choro
A turma rodeia ela
Fazendo força igual touro
Por trás, de frente, de lado
Só urubu esganado
Por tripas no matadouro
Nem reclamação, nem choro
A turma rodeia ela
Fazendo força igual touro
Por trás, de frente, de lado
Só urubu esganado
Por tripas no matadouro
A mulher fica no meio
É homem por todo lado
Cada um tira uma linha
De maldade e fraseado
Quando ela banca a loba
Outro grita olha a mão boba
Que aí só tem tarado
É homem por todo lado
Cada um tira uma linha
De maldade e fraseado
Quando ela banca a loba
Outro grita olha a mão boba
Que aí só tem tarado
Alguma usa alfinete
Ferra o cabra igual lacraia
Mas a que gosta do frevo
Se solta no meio da laia
Gaiato grita de lá
Zé Mané chega pra cá
Aqui tem rabo de saia
Ferra o cabra igual lacraia
Mas a que gosta do frevo
Se solta no meio da laia
Gaiato grita de lá
Zé Mané chega pra cá
Aqui tem rabo de saia
Tem mulher que grita, opa
Cuidado com essa tara
Eu estou saindo fora
este marmanjo não pára
Agora seu saliente
Se teimar de novamente
Meto-lhe a bolsa na cara
Cuidado com essa tara
Eu estou saindo fora
este marmanjo não pára
Agora seu saliente
Se teimar de novamente
Meto-lhe a bolsa na cara
Outro de lá diz, que é
isso
É melhor ficar quietinha
Outro diz, se é tarado
Meta o cabo da sombrinha
E mande esse descarado
Andar de trem enganchado
Nas costas da vovozinha
É melhor ficar quietinha
Outro diz, se é tarado
Meta o cabo da sombrinha
E mande esse descarado
Andar de trem enganchado
Nas costas da vovozinha
Outro se deita nas costas
De alguém que está na frente
Quando um reclama, outro diz:
Quem for fraco se arrebente
Se não quer sofrer ataque
Compre um jipe ou cadilac
E saia do meio da gente
De alguém que está na frente
Quando um reclama, outro diz:
Quem for fraco se arrebente
Se não quer sofrer ataque
Compre um jipe ou cadilac
E saia do meio da gente
Um grita não me empurre
Que lugar aqui não tem
O outro grita, meu chapa
Pra que viaja de trem
Aqui estão me pisando
Outro por trás me empurrando
Eu tenho que empurrar também
Que lugar aqui não tem
O outro grita, meu chapa
Pra que viaja de trem
Aqui estão me pisando
Outro por trás me empurrando
Eu tenho que empurrar também
Gordo que fica na porta
Pra não machucar a pança
Diz para quem vem voltando
Devagar que tem criança
Quem entra não dá cartaz
Grita quem vem atrás
Aqui a maré tá mansa
Pra não machucar a pança
Diz para quem vem voltando
Devagar que tem criança
Quem entra não dá cartaz
Grita quem vem atrás
Aqui a maré tá mansa
Cada estação vai enchendo
Se ouve negro gemer
Quem entra de mãos pra cima
Depois não pode descer
Às vezes naquele meio
O amigo do alheio
Rouba e não pode correr
Se ouve negro gemer
Quem entra de mãos pra cima
Depois não pode descer
Às vezes naquele meio
O amigo do alheio
Rouba e não pode correr
Em Ricardo de Albuquerque
A melhor aconteceu
Um dia o trem encheu tanto
Que um companheiro meu
Quando foi coçar a nuca
Coçou a mulher do Juca
Dessa vez o pau comeu
A melhor aconteceu
Um dia o trem encheu tanto
Que um companheiro meu
Quando foi coçar a nuca
Coçou a mulher do Juca
Dessa vez o pau comeu
Tem pobre que vai no trem
De aperto quase morto
Com mais de cinco nas costas
Cansado, envergado e torto
E quando o trem vai chegando
Salta correndo e gritando
Eita acabou-se o conforto
De aperto quase morto
Com mais de cinco nas costas
Cansado, envergado e torto
E quando o trem vai chegando
Salta correndo e gritando
Eita acabou-se o conforto
Quando chega na Central
Só se ouve é choradeira
Um dizer nem me deixaram
Eu saltar em Madureira
Outro exclama: ? Puxa vida
Que agora na saída
Roubaram minha carteira
Só se ouve é choradeira
Um dizer nem me deixaram
Eu saltar em Madureira
Outro exclama: ? Puxa vida
Que agora na saída
Roubaram minha carteira
Mulher xinga, esses
danados
Não querem que se reclame
Entram parece uns cavalos
Daqueles que pulam arame
Pisou-me a trouxa todinha
Da roupa tão passadinha
Do doutor e da madame
Não querem que se reclame
Entram parece uns cavalos
Daqueles que pulam arame
Pisou-me a trouxa todinha
Da roupa tão passadinha
Do doutor e da madame
Camelô vende no trem
O dia todo é assim:
Olhe o drops, a bala, puxa
Cocada e amendoim
Um grita olhe aqui seu moço
Pentes de chifres e de osso
Que não quebra em pixaim
O dia todo é assim:
Olhe o drops, a bala, puxa
Cocada e amendoim
Um grita olhe aqui seu moço
Pentes de chifres e de osso
Que não quebra em pixaim
Caixa de maçã e cesto
Do tamanho de um caminhão
Menino com fogareiro
Cheio de brasa e carvão
Gritando olhe o torradinho
Outro diz sai do caminho
Deixa eu passar meu caixão
Do tamanho de um caminhão
Menino com fogareiro
Cheio de brasa e carvão
Gritando olhe o torradinho
Outro diz sai do caminho
Deixa eu passar meu caixão
Diz outro, olhe a bananada
Uma é vinte e cinco é cem
Outro diz, o picolé
De coco e uva inda tem
O que do fiscal escapa
Grita pros outros, olha o rapa
Entrou agora no trem
Uma é vinte e cinco é cem
Outro diz, o picolé
De coco e uva inda tem
O que do fiscal escapa
Grita pros outros, olha o rapa
Entrou agora no trem
Se o trem enguiça ou
avaria
Seja que motivo for
O pingente quebra o vidro
A porta, o ventilador
Na maior selvageria
Pra fazer falta no dia
Que chove e que faz calor
Seja que motivo for
O pingente quebra o vidro
A porta, o ventilador
Na maior selvageria
Pra fazer falta no dia
Que chove e que faz calor
Quem quebra o trem é
nocivo
De pensamento mesquinho
Não enxerga que o trem é
Suas pernas, seu caminho
O qual em vez de quebrá-lo
Deveria conservá-lo
Com todo zelo e carinho
De pensamento mesquinho
Não enxerga que o trem é
Suas pernas, seu caminho
O qual em vez de quebrá-lo
Deveria conservá-lo
Com todo zelo e carinho
Aquilo que nos é útil
Não devemos destruir
Quem quebra o trem por vingança
Só o mal pode surgir
Que um trem apedrejado
É mais um avariado
Que deixa de nos servir
Não devemos destruir
Quem quebra o trem por vingança
Só o mal pode surgir
Que um trem apedrejado
É mais um avariado
Que deixa de nos servir
Na Central de noite é fogo
Quando o trem chega atrasado
Antes de parar já está
Completamente lotado
Quando as portas vão abrindo
Tem uns que entram zunindo
Vão sair do outro lado
Quando o trem chega atrasado
Antes de parar já está
Completamente lotado
Quando as portas vão abrindo
Tem uns que entram zunindo
Vão sair do outro lado
Tem mulher que diz, cruz
credo
Dou-te figa disconjuro
Neste trem só tem cavalo
Dando coice no escuro
Entrei a força empurrada
De arrojo e caí sentada
Em cima dum troço duro
Dou-te figa disconjuro
Neste trem só tem cavalo
Dando coice no escuro
Entrei a força empurrada
De arrojo e caí sentada
Em cima dum troço duro
O que senta recebe
Logo um chute na canela
Aí a negrada invade
Cabine, porta e janela
Se o trem demorar parado
Negro ali fica suado
Que só tampa de panela
Logo um chute na canela
Aí a negrada invade
Cabine, porta e janela
Se o trem demorar parado
Negro ali fica suado
Que só tampa de panela
E quando sai é tão cheio
Nem mosquito acha lugar
Quando pára em estação
Que alguém quer embarcar
Quem vai dentro se entorta
E grita para os da porta
Incha pra ninguém entrar
Nem mosquito acha lugar
Quando pára em estação
Que alguém quer embarcar
Quem vai dentro se entorta
E grita para os da porta
Incha pra ninguém entrar
Tem deles que bota força
Chega engrossar o pescoço
Pra saltar em Deodoro
Outro diz: calma, seu moço
Você aqui nada arranja
Nós vamos chupar laranja
E beber água de poço
Chega engrossar o pescoço
Pra saltar em Deodoro
Outro diz: calma, seu moço
Você aqui nada arranja
Nós vamos chupar laranja
E beber água de poço
Algum que mora mais perto
Diz pro outro no caminho
Traga um filhote de onça
Pra mim amanhã cedinho
O de longe diz pois não
Depende da ocasião
Que a mãe não esteja no ninho
Diz pro outro no caminho
Traga um filhote de onça
Pra mim amanhã cedinho
O de longe diz pois não
Depende da ocasião
Que a mãe não esteja no ninho
Tem deles que mora longe
Quando acha uma vaguinha
Se deita e ferra no sono
Dorme que só criancinha
Parece que está na cama
Só acorda quando alguém chama
Meu chapa é o fim da linha
Quando acha uma vaguinha
Se deita e ferra no sono
Dorme que só criancinha
Parece que está na cama
Só acorda quando alguém chama
Meu chapa é o fim da linha
O coitado acorda tonto
Desconhecendo o lugar
É quando vê que passou
Da estação de saltar
Fica até pisando em brasa
Aí quando chega em casa
Já é hora de voltar
Desconhecendo o lugar
É quando vê que passou
Da estação de saltar
Fica até pisando em brasa
Aí quando chega em casa
Já é hora de voltar
Quem duvidar o que eu digo
No meu livro de poema
Venha conhecer o subúrbio
Com seu povo e seu sistema
Depois que fizer morada
Pegue o trem da madrugada
Que vê todo este cinema
No meu livro de poema
Venha conhecer o subúrbio
Com seu povo e seu sistema
Depois que fizer morada
Pegue o trem da madrugada
Que vê todo este cinema
Jogo de empurra e briga
Acontece todo dia
Zoada, punga e pedintes
Um rouba, outro negocia
Louco, mendigo e cachaça
Abusa, xinga e faz graça
O que viaja aprecia
Acontece todo dia
Zoada, punga e pedintes
Um rouba, outro negocia
Louco, mendigo e cachaça
Abusa, xinga e faz graça
O que viaja aprecia
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