Um encontro emocionante com Fafá de Belém
O
fato que contarei agora, rememorei não faz muito tempo com a própria Fafá de
Belém no camarim do Teatro Rival, após um lindo show que ela e sua filha
Mariana fizeram lá. Trata-se da paixão de um fã por sua cantora.
Certa
manhã, uma amiga minha cearense me ligou aflita:
“Beto.
Você tem que vir aqui agora. Venha depressa.”
“Aconteceu
alguma coisa, Carminha?”
“É
o meu sobrinho Ricardo.”
“Sobrinho?”
“Mora
no Ceará. Veio passar as férias comigo. Você tem que ver as coisas que ele faz.”
Atendi
ao chamado, mas fui a Copacabana só no início da tarde.
Assim
que entrei, ela me agarrou pelo braço e me levou até o quarto dela, onde um
menino moreno, muito encabulado, quietinho mesmo, ajeitava sobre a cama umas
folhas de cartolina tamanho A.3.
“Olhe
só o que essa criatura faz.”
Fiquei
abismado com o que vi. Desenhos e mais desenhos da Fafá de Belém, o rosto dela
em vários closes e, na altura dos seios, algum cenário, uma floresta, uma
caravana com cavalos em lugar árido, um circo... Tudo feito no grafite. Impressionante
a perfeição do traçado, o sombreamento. Eram praticamente fotografias. Adorei
um em que pássaros e borboletas se embolavam nos cabelos dela.
Comecei
a duvidar de que o menino seria mesmo o autor daquilo. Desafiei:
“Queria
ver você fazendo um agora.”
Ele
nem questionou. Agarrou uma folha em branco e, numa habilidade de assustar, foi
traçando o rosto dela. Estava impregnado em sua mente.
“Esse
menino é louco pela Fafá, Beto. Será que não tem como a gente mandar um desenho
desses pra ela?”
“Mandar?”
“É.”
Fiquei
matutando.
“Só
se descobríssemos a produção dela, sei lá...”
De
repente me veio um estalo. Fafá estava se apresentando num show no Teatro João
Caetano na Praça Tiradentes. Carminha se entusiasmou e os olhos do menino
brilharam.
“Escolhe
qual desenho você quer dar pra ela, Ricardo.”
Ele
tremia de ansiedade. Ficou olhando todos na indecisão. Acabou escolhendo dois.
Enrolamos
as folhas juntas na forma de canudo e nos metemos num ônibus para o Centro da
cidade. Já passava de quatro da tarde e o show estava marcado para seis e meia.
Na bilheteria do teatro já se formava uma fila. Antes de comprarmos os
ingressos, achei melhor irmos até uma entrada lateral, a entrada dos artistas
para assuntar. Havia um segurança. Perguntei a ele:
“A
Fafá de Belém já chegou?”
“Sim.
Está lá dentro. Por que?”
“Não
queremos incomodar. Só queríamos dar isso a ela.”
Ele
olhou o canudo com desconfiança.
“Ninguém
pode entrar aqui não.”
“Tudo
bem. Mas você poderia entregar isso pra ela?”
“O
que é?”
“Um
presente.”
“Mando
alguém entregar. Me dá aqui.”
Quando
o homem já ia entrando com o canudo, eu pedi:
“Se
o senhor puder me dizer se ela recebeu, se viu, se gostou... É um presente
desse menino. Só queremos que diga alguma coisa pra gente.”
“Tá
bom.”
Ele
entrou. Ficamos ali parados esperando. O garoto suava nas mãos de tão nervoso.
Eu
e minha amiga começamos a rir e a fazer graça com seu nervosismo.
Acredito
que se passaram uns dez minutos quando, para nossa surpresa, a porta se abriu e
Fafá surgiu lá de dentro para vir falar conosco. Estava de jeans, camisa
branca, cabelo preso e óculos escuros. Os desenhos nas mãos. Perguntou:
“Quem
foi que fez isso aqui?”
Ele
perdera a fala. Eu me adiantei:
“Foi
ele aqui.”
“É
o meu sobrinho Ricardo. Ele é seu fã”, apresentou Carminha.
“Menino!
Eu adorei!”, disse ela.
Tascou-lhe
dois beijos. Em seguida, acrescentou:
“Vocês
são meus convidados.”
E
assim aconteceu. Nós ali na primeira fila. O show começou.
Fafá
cantou, cantou, cantou. De vez em quando olhávamos para ele. Extasiado.
Já
no final, ela apresentou os músicos, fez os agradecimentos que devia e mandou a
grande surpresa: dedicou o show a um novo amigo, alguém que lhe dera presentes
lindos, um jovem e promissor desenhista. As lágrimas desciam grossas dos olhos
do menino vendo sua rainha ali, com toda sua majestade e aquela dedicatória
para ele. Foi um momento inesquecível.
Falei
com Carminha esses dias ao telefone. Ela me disse que Ricardo formou-se em
Engenharia Civil, é casado e mora em Jacarepaguá no Rio de Janeiro.
E
continua fã incondicional de Fafá de Belém.
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