Um dia
A
vida para mim é como um dia apenas, um dia de muitas horas que se vão passando.
Com este pensamento, afasto a lamentação, a saudade antiga do que foi e agora
já não é, do que esteve e não está mais. Tampouco alimento grandes expectativas
futuras. Passado e futuro não existem.
Muito
bom imaginar que ainda a pouco brinquei carnaval do Cordão do Boitatá, mas
também participei da matinê no Tijuca Tênis Clube, um bailinho só para
crianças.
Ainda
a pouco, bebi com amigos num bar da Zona Sul, mas, ainda a pouco, pedalei com eles
por estradinhas de terra do Jardim Paraíso, numa aventura inesquecível onde
bebemos água suja e uma cobra enorme cruzou nosso caminho.
Ainda
a pouco, comprei um bolo de banana com coco na lojinha aqui do lado, mas
também, agorinha mesmo, minha avó retirou do forno mais uma de suas maravilhas:
bolo de laranja coberto de açúcar, tudo cortado em cubinhos.
Ainda
a pouco operei amídalas, fimose e estrabismo. Também retirei um litro e meio de
água do pulmão direito, numa punção sofrida no Hospital Samaritano.
Ainda
a pouco, eu me meti num ônibus com amigos para São Paulo, onde participaríamos
de evento político considerado perigoso. A viagem não aconteceu. Também
considerado um risco ir ao Maracanãzinho ver Mercedes Sosa e Milton Nascimento.
Mesmo assim, fui e adorei.
Ainda
a pouco, cantei pela primeira vez para um público no palco do Colégio Militar.
Logo
depois, eu, minha mãe e Braguinha cantando, meu pai tocando seu trompete na
festa de Bodas de Prata deles no Le Buffet. Horas mais tarde, participei de um
evento com artistas famosos pela assinatura de um projeto de lei de incentivo a
cultura.
Ainda
a pouco, nadei no mar de Saquarema com minha cockerzinha Milla, mas, ainda a
pouco, ganhei quatro medalhas de ouro numa competição de natação para petizes
no Clube Vila Isabel.
Ainda
a pouco, acordei para escrever isto.
Quatro
da manhã.
Não
é cedo, nem tarde. Apenas horas passando.
Daqui
a pouco, vou preparar o café e me preparar para a próxima aventura do dia.
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