Receita de família
Sexta-feira
bem cedinho e eu tomando meu café com a TV ligada. Quando o telejornal
terminou, a chamada do programa da Ana Maria Braga anunciava uma receita
diferente: lasanha feita com pão árabe.
Fiquei
curioso e resolvi acompanhar. Ao invés da massa comum que se coloca
intercalando ao molho, queijo, presunto ou carne, a apresentadora colocava
fatias do pão. Depois levava ao forno para assar.
Resolvi
preparar uma e convidar os amigos Flavio e Bianca. Eu havia combinado com eles
uma ida aquela noite aos Escravos da Mauá, roda de samba que acontece uma vez por
mês no Largo da Prainha.
Convite
aceito, eles vieram e encontraram uma mesa bem posta.
Abrimos
um bom vinho e eu vim trazendo a lasanha esfumando.
“Pelo
cheiro, deve estar uma delícia”, comentou Bianca.
“Preparem-se
porque é uma lasanha diferente”, avisei.
Todos
se serviram. Flavio deu suas primeiras mastigadas analisando.
“A
consistência dela... É realmente diferente.”
Revelei
logo o segredo:
“É
pão árabe.”
“Pão
árabe?”
“Sim.”
Bianca
mastigava sem muita vontade. Não parecia satisfeita. E não estava mesmo.
“Sinceramente...
Prefiro a tradicional”, confessou ela.
Flavio
teve opinião contrária:
“Eu
gostei. Vou até repetir.”
Fatiou
outro pedaço e quis saber:
“Com
quem você aprendeu isso?”
Não
tive coragem de dizer que fora no programa de TV e menti:
“Ah...
Isso é uma receita de família, da minha avó.”
“Sua
avó?”
“É.
Ela fazia sempre.”
Terminado
o jantar, recolhemos tudo e saímos.
Mal
chegamos aos Escravos da Mauá, a amiga Angela Porto veio ter conosco:
“Caramba!
Vocês demoraram muito.”
E
o Flavio:
“O
Beto nos ofereceu um jantar delicioso.”
“Ah
é? Comeram o que?”
“Uma
lasanha diferente feita com pão árabe, receita de família.”
Angela
Porto, que adora cozinhar, faz pratos incríveis e é completamente ligada a tudo
o que se refere à culinária, mandou logo:
“Ah...
A Ana Maria Braga ensinou isso no programa hoje de manhã.”
Mentira
tem perna curtíssima. Quis enterrar a cabeça nalgum buraco. Tentando disfarçar
a vermelhidão do rosto, disse:
“Pra
vocês verem... Nesse mundo nada se cria, tudo se copia. Copiaram a receita da
minha avó.”
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