Memória olfativa


Desde ontem estou obrigado a tomar o antibiótico Cefalexina, medicamento este que ministrei por quase treze anos em minha cockerzinha Milla, toda a vez que lhe estouravam alergias. Ela se saracoteava toda, rebolava de alegria com o evento. Adorava tomar remédios. O cheiro da cápsula me faz lembrar Milla.
Outros aromas me remetem a momentos do passado.
Exemplos:
LEITE DE COLÔNIA – as pesquisas de trabalho de grupo da faculdade. Visitamos a pequena fábrica do produto ali no Largo da Segunda-feira (Tijuca). O dono era um senhor encantador;
VITESS – outro dia senti um cheiro parecido com o do perfume que usei muito na adolescência. Também o GELLATI para minhas saídas, os passeios de carro com amigos, as idas aos shows no Morro da Urca ou o barzinho no Enchanted Valley em busca da batida de vinho. Nem sei se esses perfumes ainda existem;
UÍSQUE – Adolescente, ganhei num bingo uma garrafa de OLD PARR. Apesar de não ser um adepto da bebida, aquele troféu enfeitou minha estante de livros por muitos anos. Até que um amigo veio e mamou ela toda;
IPOGLÓS – Minha testa com espinhas e a recordação de um determinado momento que não vale a pena relatar;
CHEIRO DE BOLO DA LOJA AQUI AO LADO – minha avó paterna, boleira de mão cheia.
SABÃO EM BARRA – minha avó;
ESMALTE – a empregada cuidando da unha;
CEVADA – visita guiada com a turma do Colégio Metropolitano pela fábrica de cerveja que havia na Avenida Maracanã. Hoje é um hipermercado;
PALHA – as esteiras que usávamos na praia. E também a visitação ao Museu do Índio, prédio que virou polêmica, quase demolido para abrir espaço para a Copa 2014;
CANETA PILOT – minhas tias muito novas fazendo desenhos em cartolina para uma campanha política;
GASOLINA – toda a criança adora o cheiro da gasolina. Lembrança de muitas viagens;
CHEIRO DE ÓLEO NO MAR – nós com nossa lancha na Ilha do Governador;
CHEIRO DE MENTA – temporada que passávamos em um sítio em Mury. De uma família descendente de alemães, eram donos da fábrica Eucalol de sabonetes e pastas de dente;
ÁLCOOL DE BANHEIRO – Colocando o mimeógrafo para rodar;
CIPESTRE – viagens para Campos do Jordão, Itatiaia. Também o funeral de um amigo;
CAFÉ TORRADO – festinha do Colégio Metropolitano, onde eu dancei com imenso chapéu e peneira com vários grãozinhos colados. Era um colhedor de café.
De momento, é o que me vem na cabeça. Falando em café, vou agora preparar um.

Comentários

Anônimo disse…
Adorei seu artigo. Realmente, a memória olfativa é um assunto delicioso. e fica ainda mais quanto mais o tempo passa para nós. será que o sr. pode me ajudar? o senhor poderia me dizer qual a fragrância que lhe vem a mente quando pensa no Vitess? achei alguns na argentina, mas a aduana não permite o envio de líquidos. quero tentar fabricar algo parecido misturando essências. será que poderias me ajudar? minha mulher adorava esse perfume, e eu quero passar a usar algo semelhante. obrigado
Beto Caratori disse…
Oi, Pedro. Só hoje é que li seu comentário, pode isso? Rsrsrs. Olha, rapaz... Não faço a menor ideia da combinação de essências que originaram o Vitess. Mas posso tentar investigar. Que bom que tenha gostado do meu artigo. Um forte abraço pra você.

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