Vento, ventania, trovoadas, fogos de artifício





Finalmente a chuva começou lá fora, porque o calor está de matar.
Trovões já anunciavam que ela viria. Antes, os telejornais também.
Não gosto de trovões. Não gosto. Também não suporto vento. Detesto ventania.
Gosto de brisa. Não de vento forte.
Se chego numa praia e está ventando, abro os braços e digo:
“Maravilha!!!!”
Cinco minutos de encantamento.
No sexto minuto: “Que saco!”
E a areia levantando. Vontade de mandar ladrilhar tudo.
Ouvindo os estrondos, não tenho como não lembrar Milla, minha cockerzinha amada que me deixou ano passado. Em dias de trovoadas e ventos fortes, ficávamos os dois aflitos. A gatinha Milu jamais demonstrou qualquer reação.
Se Milla ainda vivesse, estaria nesse instante latindo e correndo pela sala nervosa. Em certos momentos pararia na minha frente, me olharia como quem diz: “Não vai fazer nada?”
E pediria colo. Como de hábito, eu a pegaria, daria meus beijos e diria para nos consolar:
“Calminha. Vai passar, meu anjo.”
E a devolveria para o chão para retomar os latidos saltitados.
No tempo em que moramos em Saquarema, essa cena se repetiu inúmeras vezes. Região de praia com uma constância de ventos insuportável num período que vai de julho até novembro. Muita bateção de porta, janela, muita planta voando, coisas caindo, TV saindo do ar, apagões...
Aí, quando tudo se acalma, começa a vez dos fogos de artifícios. Não entendo isso. Independente do evento, Natal, Ano Novo, festa da Padroeira, o povo de lá solta fogos por qualquer motivo: aniversário, anúncio de promoção de supermercado, show na praia, corrida de cross...  Se bobear, até pela morte de um inimigo. Isso vai de dezembro, passando pelo carnaval e indo até sempre.
No réveillon de 2007 para 2008, demorei a chegar à ceia em casa de amigos, porque fiquei quase até meia-noite abraçando Milla no sofá, ela tremendo com cada assovio e estrondo dos fogos que a vizinha soltava. Milu sempre indiferente. Fiz as duas engolirem um comprimidinho de maracujina e finalmente tomei coragem pra sair.
Depois de tanto tormento, vinham os dias ensolarados para acalmar.
Muitas vezes, eu e Milla saímos em passeio pela praia até o canal, onde ela gostava de nadar e, de repente, o tempo foi se fechando, trovoadas ao longe.
Logo aquele vento forte, a areia se espalhando, pinicando.
Eu olhava para ela. Seus olhinhos apertadinhos por causa daquele incomodo, as orelhas balançando.
“Vamos embora?”
E lá íamos nós correndo depressa para casa. 

Comentários

Kadu Mauad disse…
Quando eu crescer, quero escrever igual a meu amigo, Beto Caratori!

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