A vizinha da janela: falta d'água
Eu, pelado no quintal, a balançar a mangueira, sacudindo,
rodopiando... Nada.
Não subia. Não subia nem por um decreto. Falo da água que
deveria estar subindo para caixa d’água do sobrado. Da janela do prédio em
frente, a vizinha e sua mãe octogenária me observavam, as duas na maior secura.
O abastecimento no bairro andava ruim, mas tudo parecia ter
se normalizado nos últimos dias ali pelas redondezas. Porém, do meu humilde
chuveiro, um pingo tremelicava sem cair. A velhota, apesar de se dizer cega, mirava
certeira como um lince o pingolim a balançar. Confessou que já encarara
enoooormes racionamentos, alguns de durabilidade impressionante.
“Deve ser uma bobagem, meu filho. Procure mexer na sua
torneira com cuidado. Se quiser, nós duas vamos aí pra examinar seu cano”.
E antes que eu dissesse algo, ela, já soltando a dentadura
da boca, continuou:
“Eu faço a chupeta, minha filha solta a rosca e você enfia a
carrapeta”.
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