Uma historinha de Milla

Tempos atrás, precisei me ausentar por uma semana do Rio. Uma viagem a São Paulo.
Prontamente, uma conhecida, que chamarei aqui de W, se ofereceu para cuidar da minha cachorrinha durante a minha ausência. Milla ficaria hospedada no seu apartamento, um quarto e sala na Rua do Riachuelo.
Aceitei o generoso oferecimento e a levei para lá.
Deu dó ver seus olhinhos tristes por ser deixada naquele ambiente desconhecido. Orientei W em relação aos horários do remédio, do cocô, da comida, a quantidade de ração. Milla ainda tentou sua estratégia de pular nas duas patas, pedir colo, pedir atenção para que eu não a abandonasse daquela maneira.
De nada adiantou. Eu fui.
Mas quando retornei, liguei de imediato para W. Estava morrendo de saudades da minha cockerzinha preta.
- A Milla está ótima, muito bem adaptada – disse ela, para me tranquilizar - Dorme na cama comigo todos os dias.
- Deu muito trabalho, não deu?
- Nada. Milla é um anjinho. E está um grude comigo.
- Que bom. Irei agora mesmo para pegá-la.
- Mas, pra que a pressa? – protestou – Deixa o bichinho aqui mais um pouco.
Não concordei. Uma hora mais tarde, já estava no apartamento da Rua do Riachuelo.
Milla pulou, ganiu de alegria.
Para acalmá-la, W ofereceu-lhe uns biscoitinhos de maisena. A estratégia funcionou. Ela aquietou-se diante de nós, concentrada naquela função de mastigar.
Pude então contar sobre a viagem, as visitas aos museus, os dias que passei com os primos na terra da garoa.
Mais uma vez, ela tornou a insistir no tema:
- Não leva a cachorrinha não. Deixa ficar mais uns dias. Ela está muito bem aqui.
Antes que eu respondesse, W voltou-se para Milla, que já devorara todos os biscoitos e perguntou, como quem conversa com um bebê:
- Não é, minha filhinha? Você não quer ficar com a mamãe?
Aquele momento ficará para sempre na minha memória.
Como se compreendesse tudo o que era dito ali, Milla, que já devorara todos os biscoitos, saiu de onde estava, foi lá para dentro e voltou com a coleira na boca.
W ficou indignadíssima:
- Mas... Olha só que FDP!!!!!!!!!!!
Depois acabou rindo. Rimos muito.
E Milla voltou comigo para casa feliz.
Um amor incondicional.
Comentários
Leve, suave, agadável.
Mas apenas uma dúvida:
quem voltou à casa é que estava feliz ou a própria antiga residência de Milla que é feliz?
talvez um vírgula dissolva. Ou se vão para as favas a pontuação e salve o duplo sentido e as terceitas intenções!
do seu, sempre obstinado,
kdu